sexta-feira, 9 de setembro de 2011

VERSOS PERPLEXOS


      NALDOVELHO       

      Palavras espremidas, descontentes,
      vibram nervosas, reticentes...
      A mesma mão que semeia o trigo,
      contamina os rios e seus afluentes.
      A mesma mão que acarinha o filho,
      extermina as sementes da terra que chora.
      A mesma mão que escreve poemas,
      cava a trincheira que o protege agora.

      Palavras tortas, expostas, contundentes.
      entoam cânticos de guerra evidente.
      A mesma mão que cura as feridas
      empunha a espada que sangra a vida.
      Versos perplexos, reflexivos, confessos,
      desentranham das vísceras o poema que implora.

      A mesma mão que abre o caminho,
      deixa neles rastros de sangue e desatino.
      O que foi feito da cantiga de amor que outrora
      trazia tanto encantamento na voz de um trovador?
      O que foi feito do sorriso criança
      que alimentava os sonhos do pensador?

      O que foi feito do poeta e de suas juras de amor?
      Será que se calou a poesia pelo jugo do imperador?
      Ou será que é sina do homem crescer através da dor?

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