NALDOVELHO
Sento-me à mesa e a comida já está servida. Todos em silêncio! Acho que rezando, cada um
para o seu Deus. São tantos os Deuses, cada um tem o seu! E eu rezo também.
Agradeço pelo pão que agora eu como, pelo dia que eu acabei de
viver e por todas as coisas que eu ainda possuo. Agradeço pelo ano que acabou
de passar, afinal, podia ter sido pior! Peço pelos tempos que vão chegar, pela
espera de que nos aconteça o melhor e começo a comer. Olho em volta da mesa e
estão todos comendo, comendo e falando, cada um com o seu prato e com um
assunto, cada um com uma fome e num idioma diferente. Estranho! De repente
lembrei da Torre de Babel.
Olho para o pão e lembro da sua carne, olho para o vinho e
lembro do seu sangue. Engraçado, acabo de perder a fome! Acho que por medo de
sentir na boca o seu gosto.
Peço licença, levanto da mesa, vou até a sacada e dou uma
olhada no mundo. Acendo um cigarro, dou uma tragada, tempo de reflexão! Na sala
as pessoas continuam comendo e falando e eu não consigo entender nada!
Olho de novo para as ruas, quanta gente festejando, milhões de
luzes piscando, ou será que estão me picando? Lembro-me de um corpo morto
pregado na cruz... Hoje é dia trinta e um, quase primeiro, deveria ser um dia
de alegria, de esperança, mas para mim está sendo de descobertas.
E a Torre de Babel cada vez mais alta, e as estrelas cada vez
mais longe, e as pessoas continuam falando... Engraçado! Eu ainda tenho sede,
muita sede!
Acho que eu estou ficando maluco, falando assim sozinho. Acho
melhor entrar e me unir aos outros, pelo menos um copo d'água, se já não
transformaram em sangue, eu devo encontrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário