sábado, 24 de setembro de 2011

CEIA A MEIA NOITE (PROSA POÉTICA)



NALDOVELHO

Sento-me à mesa e a comida já está servida.  Todos em silêncio! Acho que rezando, cada um para o seu Deus. São tantos os Deuses, cada um tem o seu! E eu rezo também.

Agradeço pelo pão que agora eu como, pelo dia que eu acabei de viver e por todas as coisas que eu ainda possuo. Agradeço pelo ano que acabou de passar, afinal, podia ter sido pior! Peço pelos tempos que vão chegar, pela espera de que nos aconteça o melhor e começo a comer. Olho em volta da mesa e estão todos comendo, comendo e falando, cada um com o seu prato e com um assunto, cada um com uma fome e num idioma diferente. Estranho! De repente lembrei da Torre de Babel.

Olho para o pão e lembro da sua carne, olho para o vinho e lembro do seu sangue. Engraçado, acabo de perder a fome! Acho que por medo de sentir na boca o seu gosto.

Peço licença, levanto da mesa, vou até a sacada e dou uma olhada no mundo. Acendo um cigarro, dou uma tragada, tempo de reflexão! Na sala as pessoas continuam comendo e falando e eu não consigo entender nada!

Olho de novo para as ruas, quanta gente festejando, milhões de luzes piscando, ou será que estão me picando? Lembro-me de um corpo morto pregado na cruz... Hoje é dia trinta e um, quase primeiro, deveria ser um dia de alegria, de esperança, mas para mim está sendo de descobertas.

E a Torre de Babel cada vez mais alta, e as estrelas cada vez mais longe, e as pessoas continuam falando... Engraçado! Eu ainda tenho sede, muita sede!

Acho que eu estou ficando maluco, falando assim sozinho. Acho melhor entrar e me unir aos outros, pelo menos um copo d'água, se já não transformaram em sangue, eu devo encontrar.

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