NALDOVELHO
Olhos castanhos claros, amendoados; cabelos
lisos, finos, bem cuidados. Lábios grossos, sorriso aberto e avassalador. Meu
Deus! Acho que só pode ser assombração, ou então uma miragem. E olha que faz
tempo não bebo, não cheiro e não aperto um bagulho, para ficar assim deste
jeito, vendo coisas estranhas, imagens sem nexo, alucinações!
Melhor desviar o olhar, vai que ela me
reconhece! O que falar? Melhor tomar logo o ônibus, ainda que seja o errado,
qualquer direção serve, só não posso ficar parado a mercê deste delírio, de
pernas trêmulas, enraizadas. Parece que o chão se abriu e eu fui transformado
em poste. Será que ela me devora? Será que ela vai embora? Tomara!
Quem sabe ela não volta pros longes? Ou quem
sabe não retorna ao passado? E o ônibus que não chega... E se ela tomar a mesma
condução? E se ela sentar ao meu lado?
Escutar novamente a sua voz, roçar braço com
braço, perna com perna. E o seu perfume? Será que ainda usa o mesmo? Será que
eu consigo sobreviver? Olhar dentro dos seus olhos e resistir ao desejo de
dizer que eu ainda...
Melhor não!
Melhor não fazer esta viagem, melhor parar de ficar pensando bobagens,
voltar para casa depressa e retornar à calmaria, ficar escrevendo poesia, um
conto, uma prosa, sei lá! Qualquer coisa que acalme e me faça esquecer que a
saudade que ela deixou não tem cura e dói até não mais poder.
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