sábado, 24 de setembro de 2011

ALUCINAÇÃO (PROSA POÉTICA)



NALDOVELHO

Olhos castanhos claros, amendoados; cabelos lisos, finos, bem cuidados. Lábios grossos, sorriso aberto e avassalador. Meu Deus! Acho que só pode ser assombração, ou então uma miragem. E olha que faz tempo não bebo, não cheiro e não aperto um bagulho, para ficar assim deste jeito, vendo coisas estranhas, imagens sem nexo, alucinações!

Melhor desviar o olhar, vai que ela me reconhece! O que falar? Melhor tomar logo o ônibus, ainda que seja o errado, qualquer direção serve, só não posso ficar parado a mercê deste delírio, de pernas trêmulas, enraizadas. Parece que o chão se abriu e eu fui transformado em poste. Será que ela me devora? Será que ela vai embora? Tomara!

Quem sabe ela não volta pros longes? Ou quem sabe não retorna ao passado? E o ônibus que não chega... E se ela tomar a mesma condução? E se ela sentar ao meu lado?

Escutar novamente a sua voz, roçar braço com braço, perna com perna. E o seu perfume? Será que ainda usa o mesmo? Será que eu consigo sobreviver? Olhar dentro dos seus olhos e resistir ao desejo de dizer que eu ainda...

Melhor não!  Melhor não fazer esta viagem, melhor parar de ficar pensando bobagens, voltar para casa depressa e retornar à calmaria, ficar escrevendo poesia, um conto, uma prosa, sei lá! Qualquer coisa que acalme e me faça esquecer que a saudade que ela deixou não tem cura e dói até não mais poder.

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