sábado, 24 de setembro de 2011

O CICLO DOS VERSOS (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   A espera inquietante, o amanhã que não chega,
   as horas tão lentas, grudentas, sedentas,
   o instante presente preso ao passado,
   e as janelas da casa permanecem fechadas.
   Lá fora um anjo avalia os estragos,
   aqui dentro um demônio, estiagem de sonhos.
   Lá fora um vento sacode a cidade,
   aqui dentro calmaria, nostalgia, saudade.
   Uma garrafa de vodka, já pela metade,
   papeis espalhados pelo chão do meu quarto.
   Palavras recolhidas, reprimidas, indispostas,
   poemas abortados ou colocados de lado.
   A campainha da porta, faz tempo não toca
   e o meu telefone quando toca é engano.
   Lá fora o vento trouxe chuva bem forte,
   aqui dentro calmaria trouxe medo da morte.
   E insônia insistente avisa que é cedo,
   vidraça embaçada, cidade nublada,
   o rádio ligado, sintonia em desterro
   e a música que toca revela segredos,
   remexe em guardados, cicatrizes ardidas.
   Lá fora o tempo melhorou e amanhece,
   aqui dentro a chuva desperta e anoitece,
   são águas, poemas, arrombadas as comportas!
   Lá fora um anjo sorri satisfeito,
   aqui dentro o poeta se aquieta e dorme.

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