NALDOVELHO
Há dias que não são nublados,
são amplos, arejados, iluminados,
com sol por inteiro exibido,
janelas descuidadas, escancaradas,
vento bisbilhoteiro e enxerido,
com canto de pássaros nos ouvidos
e com o sorriso a brotar abusado
por pouco ou qualquer motivo,
pois sem que haja explicação
desaparece o aperto no peito,
a inquietude e a lágrima latente.
Há dias em que a alegria diz presente,
e o pensamento viaja contente
por doces lembranças, lugares,
por tanta magia, poesia,
que a mão que vive a chorar versos,
apressa-se em misturar cores,
para que numa tela disposta e sedenta
possa ser projetada a luz de novo tempo
que certamente um dia eu vou merecer ter.
Há dias em que à tarde
me envolve em preguiças,
que o crepúsculo acaricia e embriaga,
e a noite se faz alcoviteira
ao abrigar em segredo o nosso romance,
e ao fechar os olhos às nossas ousadias,
pois o prazer de explorar seu corpo,
só se compara à beleza desses dias
onde a eternidade deste instante
ficará para sempre preservada
em nossos guardados.
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