sexta-feira, 25 de março de 2016

CANDEEIRO ACESO

..
    NALDOVELHO

    Candeeiro aceso
    no parapeito da janela
    observa o firmamento.

    É noite ainda, quase madrugada,
    lá fora, uma lua azulada
    abençoa a cidade
    e as pessoas não percebem
    que apesar do silêncio
    as ruas permanecem acordadas.

    Aqui dentro, luz e sombras
    numa batalha sem fim
    devoram minhas entranhas.

    Morre o homem que eu sou,
    Prisioneiro do seu tempo.
    Sobrevive o homem que eu sonho
    abraçado a sua imensidão.


quarta-feira, 9 de março de 2016

DEIXEM

    NALDOVELHO

    Deixem que no ar sobreviva um aceno,
    uma palavra amena, um gesto de carinho,
    um sinal que nos revele um caminho,
    um que nos traga mudanças de rumos,
    que nos permita apaziguar corações.

    Deixem que o ar fique impregnado de alfazema,
    que uma chave nos faça abrir portas,
    que um mapa nos revele tesouros,
    não aqueles que reluzem a ouro,
    mas os que nos proponham a imensidão.

    Deixem que a criança em nós sobreviva,
    que possamos nos apaixonar outra vez,
    e uma vez mais, por que não?
    quantas vezes forem possíveis,
    poetas não sabem viver sem amor.

    Deixem que a ternura seja a bússola
    que nos permitirá sobreviver ao caos,
    pois só assim permaneceremos íntegros,
    pois só assim valerá a pena
    sermos os arautos da imperfeição.

    Deixem que esta música continue a tocar,
    há sempre a possibilidade de mais uma dança,
    e que entre o amanhecer e o anoitecer
    possamos escrever muitos poemas,
    ainda temos muito a aprender!

sábado, 5 de março de 2016

MINHAS ÁGUAS

    NALDOVELHO

    Minhas águas escoam
    por um emaranhado de escolhas,
    algumas delas erradas,
    águas turvas, lamacentas,
    trilhas que às vezes eu tomo,
    e que vão dar em lugar algum.
    Em outras, águas claras de nascente,
    que semeiam a vida que eu tenho,
    herança que eu transmuto em versos
    pelos caminhos da imensidão.

    Minhas águas carregam
    sonhos de alimentar corredeiras,
    palavras fazedeiras, verdades,
    viagens, miragens, magia,
    caminho de ir e de vir.
    E em cada ponto da estrada
    eu deixo um pouco de mim.
    Quem sabe outro viajante
    perdido em suas romarias
    possa um dia colher
    o pouco do que eu tenho a dizer.

    Mas às vezes eu também derramo
    águas que escorrem de salgadas,
    águas ardidas de saudade,
    lágrimas que sulcam o meu rosto,
    mas que ainda assim não causam feridas,
    pois a pele que me cobre o corpo
    é ungida na forja dos loucos,
    o que me dá a sabedoria dos poucos
    que todos os dias ao amanhecer
    têm a força e a coragem de prosseguir.