NALDOVELHO
Colheita de
versos, esparramados, dispersos.
Ordená-los
sem pressa, de preferência num livro,
que é o
melhor abrigo pros açodamentos do tempo,
pois é lá que
existe o remédio, a cura pro tédio,
e a magia que
propicia ao solitário a viagem
por terras,
amores, países estranhos,
esquinas,
romances, por colos, donzelas,
por portas,
janelas, todas elas sem trancas,
sem trincos
ou tramelas.
Colheita de
versos, paridos nostálgicos,
profanos,
bastardos, controversas escolhas
que embora
ainda doam, mostram sentimento,
revelam as
vivências que o poeta decidiu para si.
Colheitas de
versos, rimados ou não,
metrificados,
às vezes, não importam as regras,
o que me
importa a erudição?
Algemas que
impedem que o dito seja dito
sem nenhum
constrangimento,
pois é a
palavra que nos revela
todo o
encantamento que precisamos viver.
Colheita de
versos que eu proponho confessos,
revelam
segredos, exorcizam meus medos,
cicatrizam
feridas, tiram de mim a casca
que eu precisei
construir para sobreviver.
Colheita de
versos, que bom que eu os tenho!
Ainda que
safados, indecentes, indigentes
e ejaculados
sem pressa vão fertilizando as folhas...
Quem sabe
algum dia alguém possa colher?
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