quarta-feira, 25 de setembro de 2013

DO LADO DE FORA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Olha o vulto na porta,
   sou eu batendo de novo,
   pedindo entrada, socorro.

   Olha o trinco emperrado
   e o eu de dentro não abre,
   e eu de fora não entro.

   É a porta trancada,
   já é tarde e estou preso
   do lado de fora

   No quintal lá de casa,
   o cachorro me avança
   e eu fico assustado.

   Noite adentro eu grito,
   quero entrar não consigo
   e eu não sei mais de nada.

   Mas eu não tenho escolha
   e também não escuto
   meu lamento, meu grito.

   E o eu de dentro em silêncio,
   e o eu de fora sedento,
   faz tempo ao relento.

LADO ESCURO DA LUA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

   Pessoas que caminham
   pelo lado escuro da lua,
   trazem nos olhos
   a nostalgia e a demência,
   e no corpo, cicatrizes corrosivas
   que sangram se alguém tocar.
   Com o tempo viram artistas,
   uns poucos, poetas!
   Deus perdoe as heresias
   de que são capazes,
   pecadores contumazes
   que vivem de espalhar sementes,
   frutas tenras, saborosas,
   algumas ácidas, poderosas...
   Colheitas que não serão
   capazes de fazer.

domingo, 22 de setembro de 2013

FERIDA LATENTE - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Nem todo o poema
   que estanca o sangue
   e cicatriza os cortes,
   cura a dor que se sente.
   Há poemas que se alimentam
   de ferida latente,
   volta e meia brota um!
   Sinal que a danada da paixão
   permanece doendo dentro da gente.




quarta-feira, 18 de setembro de 2013

NEM TODOS OS POEMAS SÃO BONS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


   NALDOVELHO

   Nem todos os cadáveres estão prontos
   para serem devorados
   pelos abutres de plantão. 
   Muitos ainda caminham pelas ruas
   e teimosos que são,
   recusam-se a sair de cena,
   eternizados pela ambição.

   Nem todas as crenças são boas
   para serem perpetuadas
   pelos crentes de profissão.
   Muitas se mostram contaminadas
   pelo ódio e pela violência,
   onde irmão subjuga irmão,
   inocentes são sacrificadas em desgraça,
   muitos, mutilados em plena praça,
   em nome de um deus sombrio
   que fanatiza pobres crianças
   em nome de uma abominação.

   Nem todos os deuses são imortais
   muitos são cruéis, virulentos e imorais,
   e se entre nós recebem acolhida,
   é porque mais parecemos animais,
   apegados que ainda estamos
   aos mais sangrentos instintos,
   às mais perversas paixões.

   Nem todos os poemas são bons.
   Muitos eu escrevo,
   por não ter outra opção!


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

NO OCO DAQUELE MURO - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   No oco daquele muro
   há um mundo estranho
   e dele só se apercebem
   os que se permitem ao sonho.
   Por lá uma velha feiticeira
   tece enredos pra lá de complexos
   e enquanto o faz desfia cantigas,
   e diz que assim lhe ensinou sua mãe.
   por lá um jardineiro maluco
   misturou lírios, azaleias e antúrios,
   e enquanto o fez, escreveu versos,
   elegias de amor e de dor.

   No oco daquele muro
   exuberante e intrincada paisagem
   de cores, odores, loucuras,
   de lua promíscua de amores,
   de raros cristais, ametistas,
   de ninfas devassas hermafroditas,
   de rios com águas revoltas,
   pássaros que com anjos conversam,
   poesia que floresce sem pressa
   e por lá uma serpente anda a solta,
   guardiã dos caminhos de ir e de vir.

   Num cantinho daquele muro,
   uma passagem para o oco do mundo
   e dela só se apercebem
   os que não temem navegar em seus sonhos
   e nos caminhos de ir e de vir.