NALDOVELHO
Tem dias que a poesia amanhece cansada, fastios
de desentranhamentos, escassos os versos que eu tento, dias nublados demais! Onde
só restam o silêncio e a quietude da alma, pois nem o vento abusado se atreve a
invadir-me o quarto, ainda que aberta a janela. Dias de calmaria, coisa incomum
nestes tempos de tantos açodamentos.
Tem dias que eu amanheço distante, a trilhar
caminhos ausentes, a sonhar vazios presentes, pois nem sempre te vejo ao meu
lado, posto que, quando te procuro, já não estás mais. E aí, é um quê de choro
não choro, não sei se vou ou te espero, e o que eu percebo é sempre nublado, embaralhados
os pensamentos, que até os versos que eu tenho, confusos e destrambelhados, não
transmitem o sentimento, nem o estrago que tudo isto me faz.
Tem dias que eu amanheço tormenta de poesia
inquieta e ardida que por quase nada arrebenta as comportas e deságuam lágrimas
densas, que, por tanto tempo reprimidas, espalham poemas, cantigas a dissolver
feridas cristalizadas e a curar a dor que atormenta.
Mas tem dias que eu amanheço magia de
pássaros barulhentos, de flores em animada conversa, de sol que exibido se
apressa em mostrar as belezas da vida. São dias de sorriso nos olhos, de buscas
e esperanças confessas, pois por mais que a tormenta me escolha, o poeta
sobrevive inteiro no sagrado ofício que eu tenho de ser poesia em festa, aconteça
o que acontecer.
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