Tem janelas,
tem portas, trincos, tramelas,
tem sala, tem
quarto, cozinha e banheiro,
mobília
discreta, ambiente sombrio,
parece uma
casa, só não sei se é um lar.
Em cima da
mesa, na sala de estar,
tem um vaso
com flores que não se permitem à essência.
Tem também
outras plantas, violetas e avencas,
desmaiadas,
sem viço, embaçadas as folhas.
Num canto
imprensado, um telefone que chama...
É engano, é
engano!
Tem estante,
tem livros, todos eles fechados.
No quarto uma
cama que vive desfeita,
travesseiros
amassados, lençóis amarelados,
a umidade
ambiente é bem maior do que se pensa.
Muita poeira
e mofo, cortinas fechadas,
impedem que o
ar possa se renovar.
Nessa casa
mora um homem que se entregou ao abandono,
que não
pensa, não tenta e detesta poemas.
Dorme muito e
quando acorda pede para ir embora.
Já passou dos
setenta, não quis ter filhos,
não escreveu
o seu livro, não plantou uma árvore,
e eu nem sei
o seu nome, e nem como agüenta
viver desta
escolha, com medo que doa,
com medo de
chorar.
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