NALDOVELHO
Lembra das estranhas histórias que você costumava nos contar?
Já não são tão estranhas, pois o rio que por aqui passava, hoje passa em outro lugar. E lá
na estação tem um trem que não solta mais fumaça, que tem pressa, que não sabe
esperar e que certamente vai levar coisa alguma pra nenhum lugar.
Sabe o cigarro de palha que você custava tanto a enrolar? Hoje já vem pronto num embrulhinho tão caro,
não dá nem pra comprar!
Crianças brincando pelas ruas? Já não existem, e se existem,
mudaram para outro lugar, ou então foram proibidas de brincar.
Amora na beira da estrada? Nunca mais ouvi falar. Fieira de
peixe em noite de lua? Não dá mais pra pescar, vieram uns homens dos longes,
mudaram o curso das águas, prenderam o rio numa represa e lá, ninguém consegue entrar.
Lembra do sujeito engravatado que vendia o progresso dizendo
que tudo ia melhorar? Morreu afogado numa enchente, chuva forte que os homens
não conseguiram represar.
E a casa da esquina? Muro de pedra, quintal com pomar...
Mandaram derrubar! Virou uma gaiola
esquisita, não dá nem gosto de olhar.
Bater um papo na esquina?
Tocar violão na calçada? Nem pensar! Hoje todos têm muita pressa, querem
chegar bem cedinho, dormir e não descansar.
No mais, é só muita saudade e ficar aqui contando prosas,
enquanto minha hora não chega. Qualquer dia desses, eu vou embora também, não
sei bem pra onde, mas sinceramente eu espero que seja para um bom lugar.
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