terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A CASA ONDE EU NASCI (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Quando eu era pequeno,
   o pai dizia que paredes tinham ouvidos.
   Talvez por isto, eu achasse que janelas
   eram olhos de olhar lá fora, 
   mas que também serviam
   para que me vissem por dentro,
   e que a porta da minha casa
   era como se fosse a boca do mundo
   a devorar meus pensamentos.

   Quando eu era pequeno
   achava que a casa toda respirava,
   que o teto transpirava e o chão gemia,
   e que do meu quarto
   eu conseguia escutar seus lamentos.
   Mais tarde, quando adulto,
   descobri que casas tinham pernas,
   pois nunca mais encontrei
   aquela onde eu nasci.

   Quando eu era pequeno
   sonhava com amores derradeiros,
   e precocemente sofria
   a dor dos meus desenganos.
   Mais tarde descobri
   que amores precisam
   de perdas e danos,
   pois só assim sabemos
   da sua importância de existir.

   Quando eu era pequeno
   eu acreditava em Deus,
   e tinha medo dEle!
   Depois que cresci descobri
   que Deus é apenas O Caminho
   por onde se deve prosseguir.

   Descobri também que é por isto
   que casas têm pernas,
   para que eu nunca mais
   possa voltar a viver
   a vida que já vivi. 

domingo, 25 de dezembro de 2011

O QUE DE MELHOR EU SEI FAZER (ARQUIVO)


   NALDOVELHO


   E me trouxeram aquela nascente,
   que sem mais nem menos
   se transformou em rio
   de muitas vertentes,
   algumas de águas tão calmas,
   outras, de águas de enchente.
   Mas havia sempre aquela
   que volta e meia
   inundava meu quarto
   e não havia nada
   que eu pudesse fazer.

   E me trouxeram aquela lua,
   que por ser ainda menina
   gostava de brincar de roda,
   só que sem mais nem menos
   a lua que eu tinha cresceu
   e hoje ocupa todo espaço,
   e ao derramar pela janela,
   ilumina tudo o que eu faço
   e faz com que meus versos pareçam
   contaminados de lua cheia.

   E me trouxeram aquela paixão,
   e com ela construí castelos de areia,
   só que sem mais nem menos
   vieram as corredeiras e nada me restou.
   Hoje o que ficou foi a saudade
   que volta e meia inunda o meu quarto
   e não há nada que eu queira
   ou possa fazer.

   E me trouxeram o tempo,
   e com ele a dança das águas,
   o sangue coagulado,
   os corte cicatrizados
   e a certeza de que de repente
   eu vou desaguar no mar.
   Só que ainda assim,
   levarei meus versos de lua cheia,
   pois é o que de melhor
   eu sei fazer.

sábado, 24 de dezembro de 2011

HOMEM ESTRANHO AQUELE! (LUZ E SOMBRAS)


    NALDOVELHO

    E eu sabia daquele homem
    que gostava de ficar esquecido
    no silêncio do seu quarto.

    Homem estranho aquele!
    pois por mais que lhe dessem boca,
    não falava,
    que por mais que lhe pusessem olhos,
    não enxergava,
    que por mais que lhe emprestassem ouvidos,
    não escutava.
    Só quando queria...
    E aí ninguém entendia!

    Outro dia ao andar pela rua,
    percebi que ele me olhava,
    e de repente um longo assovio...
    E pássaros em sua janela pousavam.
    Homem estranho aquele!
    que parecia não ter boca,
    mas com os pássaros conversava.
    E o que será que ele falava?
    E dos pássaros, o que ele ouvia?

    E eu sabia daquele homem
    que gostava de ficar em silêncio
    nos esquecimentos do seu quarto.
    Homem estranho aquele!
    que nem morrer direito sabia,
    pois por mais que lhe dissessem quando,
    ele não acreditava,
    que por mais que lhe dissessem onde,
    ele nem ligava, e dizia:
    que só morria quando queria.
    E o que ninguém percebia,
    é que mil mortes ele morreria
    antes que compreendessem sua agonia.

    E eu sabia daquele homem
    que falava a língua dos pássaros
    e gostava de escrever poesia.
    Homem estranho aquele!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

COISAS INTERESSANTES DE SE TER (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Todos os dias, já faz tempo,
   caminho pelas ruas
   em busca de encontrar coisas
   interessantes de se ter.
   Algumas, guardo em meu quarto
   para que em noites de solidão
   possam me entreter;
   outras, transformo em poemas.

   Por isto trago sempre comigo
   carícias que me sirvam de abrigo,
   quantidades enormes de luas cheias,
   cantigas ensinadas pelas sereias,
   madrugadas molhadas de orvalho,
   caminhos, trilhas, atalhos,
   esquinas de ousadia e desassossego,
   lembranças de colos e aconchegos,
   sementes enxertadas de sonhos,
   melodias que eu mesmo componho,
   palavras inquietas e estranhas,
   uma nostalgia que assedia e arranha,
   águas revoltas de início de outono,
   uma leve impressão de abandono,
   manhãs frias e preguiçosas de inverno,
   a esperança que eu prezo e conservo,
   essência de alfazema que espalho pela casa,
   uma vontade absurda que fortalece minhas asas,
   e uma quantidade não inventariada de espinhos.
   Hoje, já nem são tantos,
   posto que os versos que eu ouso
   a maioria dissolveu.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MARGEM DE UM RIO (LETRA DE MÚSICA)


    Para escutar a música no Recanto das Letras
   http://www.naldovelho.net/audio.php?cod=42466
   Na voz de Luciana Lazulli

   NALDOVELHO

   Margem de um rio,
   caminho sem trilho,
   criei um atalho,
   vim só pra te ver.

   Trago comigo essências,
   jóias tão raras, poemas,
   um carinho louco,
   vim aqui só pra te ver

   Beira da noite,
   pele macia,
   sou teu aconchego,
   teu bem querer.
   Minha saudade é tão grande,
   dói até não mais poder

   Minha saudade é tão grande,
   dói até não mais poder.

   Margem de um rio...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

MINHA LEI (LETRA DE MÚSICA)

   Para escutar a música no Recanto das Letras
    http://www.naldovelho.net/audio.php?cod=42445
   Na voz de Luciana Lazulli

   NALDOVELHO

   Já naveguei
   águas claras no azul deste mar,
   no horizonte outras terras sonhei,
   nas planícies do norte fui rei.
   Mas quando eu te vi,
    fiz a rosa dos ventos sorrir,
   fiz o rio mover o moinho,
   fui semente e da uva o vinho,
   fui menestrel, fui poeta 
   e mil versos ousei,
   fui profeta e o futuro tramei,
   proclamei minha lei.

   Te nomeei,
   soberana dos sonhos que eu sei,
   por planícies distantes te amei,
   o meu trono em teu colo sagrei.  
   Fui estação onde o trem 
   fez chegadas de nós,
   fui o aperto preciso dos nós,
   fui o trigo e o pão.
   
   Fui estação onde o trem 
   fez chegadas de nós,
   fui o aperto preciso dos nós,
   fui o trigo e o pão.

   Já naveguei...

LOUVAÇÃO (LETRA DE MÚSICA)


   NALDOVELHO

   Louvar a magia,
   sonhar acordado,
   ser um ser alado,
   viver do teu lado.

   Louvar a certeza
   que toda a beleza,
   só pode ser fruto
   da mãe natureza,
   que vive tramando
   pra sermos felizes,
   magia do amor.

   Louvar a semente
   plantada no ventre
   da mulher amada
   na hora sagrada.

   Louvar a esperança
   num fruto criança,
   que cresce sonhando
   latente a semente,
   Trazendo um presente
   pra vida da gente,
   magia do amor.

CICATRIZES (LETRA DE MÚSICA)


   NALDOVELHO

   Deixa assentar a poeira,
   esquece a paixão
   que causou cicatrizes
   em seu coração,
   vai em frente,
   desfaz quebrantos,
   seca o seu pranto
   e brinda ao muito que restou.

   E abre a janela,
   madrugada tece um manto
   de encantos que revelam
   que a luz de um novo sol raiou.

   Notícias lá dos longes,
   já dão conta que o tempo,
   vem trazendo bons momentos,
   vem trazendo um grande amor.

QUANDO ELES VIEREM VIVER ENTRE NÓS (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Quando os que moram 
   nas montanhas da lua nascerem por aqui,
   palavras de anjo nos mostrarão 
   que toda mulher é sagrada,
   ainda que não seja santa, 
   e dizer o contrário será pecado.

   Quando eles nascerem entre nós, 
   não haverá cor ou o idioma,
   se palestinos ou judeus, 
   serão sempre filhos de um só Deus!
   e se sentarão a mesma mesa, 
   e felizes brindarão um tempo
   de poesia e delicadeza, 
   pois como irmãos que são,
   poderão juntos orar e conversar,

   Quando eles vierem viver por aqui, 
   não mais pairará sobre nós
   a dor do Cristo crucificado, 
   e as fronteiras permanecerão sempre abertas,
   pois só então teremos conseguido compreender 
   o real significado da palavra lar.

   Quando os que moram 
   nas montanhas da lua nascerem, 
   crianças crescerão libertas,
   e nos templos a palavra
   será sempre certa,
   pois terá sido escrita
   com amor e compreensão. 

   Hoje meu coração sofre,
   pois Teu filho é negro 
   e morre de fome,
   irmão mata irmão 
   e diz ser em Teu nome,
   e é Natal e eu não consigo sorrir.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

MADRUGADA PASSAGEIRA (LETRA DE MÚSICA)

   NALDOVELHO

   Sintonizo zero hora na cidade,
   no silêncio, madrugada passageira.
   Dia findo nas notícias, nos jornais,
   zero hora, madrugada passageira.
   Companheira, passageira...

   Dia findo no café do bar da esquina,
   na fumaça do cigarro camarada.
   Companheiro, o cigarro passageiro.
   Zero hora, madrugada companheira,
   passageira, companheira...

   Zero hora, uma hora, não importa,
   se as portas da cidade estão fechadas,
   se as pessoas sono solto não descansam
   e se na cidade a chuva fria já não chove.
   Já não chove, já não chove...

   Na cidade, o cinza frio, o cinza escuro.
   Na cidade madrugada vai passando.
   É fim de noite, é fim de noite, fim...

   (Música de Jose Paulo de Resende)

domingo, 11 de dezembro de 2011

FLOR DE ABANDONO (LETRA DE MÚSICA)


   NALDOVELHO

   Tenho muitos sonhos,
   alma inquieta,
   coisa de poeta...
   Malas sempre prontas,
   só não sei dizer do adeus.

   Coração cigano
   já faz tantos anos,
   coisa sempre incerta,
   trilhas, desenganos,
   nada que seja só meu

   Muitas vezes,
   nem fiz conta,
   madrugada apronta,
   luz da lua avisa:
   hora de partida,
   flor de abandono,
   nem posso chorar.

   Levo pouca roupa
   e uma saudade louca
   grita e sempre apronta,
   coisa mais estranha:
   tanta inquietude
   e eu nem sei chorar.

BOM DIA SETEMBRO (LETRA DE MÚSICA)


   NALDOVELHO

   Bom dia setembro, de vento macio,
   de nuvens ligeiras e chuvas serenas.
   Coisas tão raras, carícias tão plenas,
   nas margens de um rio, águas tão claras.

   Murmúrios, segredos revelam teus planos,
   és parte de um sonho, semente em meus braços.
   Coisas tão raras, carícias tão plenas,
   nas margens de um rio, águas tão claras.

   És feito moinho, peça de engenho,
   fiel confidente das águas que passam
   deixando saudades no meu bem-querer.

   Bom dia, saudade, partidas de inverno,
   sou feito aguardente, cachaça madura
   que o tempo depura no teu bem-querer.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CAMINHOS QUE EU TENHO (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Às vezes eu percorro caminhos de ir
   com olhos de descortinar horizontes,
   e mãos de explorar distante.
   E aí, escancaro porteiras,
   dobro esquinas, derrubo fronteiras,
   e colho vivências por esta estrada sem fim.

   Às vezes eu percorro caminhos estranhos,
   exploro atalhos, escorrego e caio,
   colho feridas, a maioria ardidas,
   pernoito em algum canto desiludido da vida
   e ao amanhecer me vejo sem eira nem beira,  
   mas ainda assim pronto para prosseguir.

   Às vezes eu percorro caminhos de voltar,
   revejo amigos, desfaço embaraços,
   conserto os estragos das besteiras que eu faço,
   convenço o inimigo que compreender é preciso,
   ofereço um abraço, um carinho, um sorriso,
   adormeço e choro com saudades do meu lar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

NÃO QUERO (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Não quero a letra fria,
   mal intencionada e perversa
   a promiscuir-se em meus versos,
   pois a ela só interessa
   destruir minha emoção;
   tão pouco a rima obscura,
   corrompida e grosseira,
   a envenenar meus poemas
   e a acasalar-se obscena
   às lembranças, histórias,
   guardados...

   Não quero a imagem obtusa
   a poluir minha saudade
   com racionalismos, verdades,
   deixando-me os sonhos
   reclusos na desilusão.
   Prefiro chorar meus poemas,
   em versos que sejam de chuva,
   ou então de incertezas de planos,
   de notas demenciadas de um piano,
   de caminhos por ruas incertas,
   madrugadas inteiras de insônia,
   pois só assim eu me vejo completo
   e mantenho acesa a chama
   que existe em meu coração.

PALAVRAS (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Palavras poucas permanecem em silêncio,
   palavras loucas permanecem perdidas.
   Já não são tantas as dores,
   muitos, porém, os temores,
   pois ainda existem dívidas
   e tem sempre alguém querendo cobrar.

   Palavras afiadas já não causam feridas,
   já não é tão frágil o homem tolo
   e a pele, pelo uso, já virou couro,
   já não sou tão fácil de sangrar.

   Palavras roucas permanecem sussurradas,
   ainda são muitos os meus segredos,
   nomes, vivências, atalhos, lugares,
   coisas que eu não devo revelar.

   Palavras novas são sempre bem vindas,
   novas imagens, idéias, linguagens,
   haverá sempre o que aprender
   e o amanhã foi feito para nos surpreender.

   Palavras tantas, ricas, sagradas,
   palavras histórias, romances, poemas,
   palavras escolhas, palavras são temas,
   palavras respostas aos meus teoremas.

   Palavras carinho de aconchego e amor,
   palavras preciosas, estradas, caminhos,
   às vezes escassas, melhor que adormeçam,
   quem sabe descansadas possam de novo falar?

O HOMEM QUE EU VEJO (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Quando me olho no espelho,
   vejo o homem que o meu coração vê. 
   Olhos marejados de emoção,
   como se houvesse sempre lágrimas prontas,
   próprias da sensibilidade que eu gosto de saber ter.

   Vejo um homem de rosto marcado pelo tempo
   e pela ação dos ventos na colheita do semente e do sal,
   e por andar sem abrigo, quase sempre em silêncio,
   na solidão própria dos eremitas,
   eterno buscador ou coisa assim!

   Vejo um homem que por tanto se perder,
   acabou por se encontrar nas coisas simples da vida,
   e que não mais se importa em saber qual o rumo,
   pois todo ele é certo e errado,
   e o importante é caminhar sempre atento,
   a colher tudo aquilo que o caminho tem para ofertar.
   Papo de filósofo ou coisa assim!

   Vejo também, cabelos brancos,
   por força das muitas escolhas, algumas certas,
   boa parte delas erradas, quantas encruzilhadas...
   Não vou negar, ainda há muito a aprender, 
   muito a conquistar e a construir.
   O importante é que hoje eu já percebo
   o homem que um dia eu vou ser.
   Lances de espiritualidade ou coisa assim!

MINHA CONSCIÊNCIA (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   É ovelha desgarrada
   em pele de lobo, escondida,
   a caminhar pela esplanada
   e pelos atalhos desta vida;
   é alma fugitiva
   dos despenhadeiros e abismos,
   é vento que venta ao contrário
   e enlouquece o cata-vento,
   é farol que ilumina por dentro
   e que na madrugada explode
   em luzes douradas, tão cálidas,
   a guiar meu espírito sedento
   na busca de um novo abrigo,
   porto seguro na arrebentação.

   É lua cheia e feitiço
   que desfaz tramas e dramas,
   e acende pelo caminho o chama
   que irá aquecer corações;
   é flor que brota inquieta
   por entre pedras, cascalhos,
   é maré cheia em ressaca,
   e entre o mar e o rochedo,
   o atrito da depuração;
   é cristal lapidado, conflito,
   energia e renovação;
   é quem me faz ser um escolhido
   para em breve seguir viagem,
   num novo degredo e desterro,
   aprendiz que sou da minha dor. 

domingo, 4 de dezembro de 2011

QUANDO EU ME APERCEBO (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Quando eu me apercebo
   de tua presença e aconchego,
   ponho-me a explorar teus contornos,
   só para sentir minha pele em fogo
   e o meu coração em descompasso,
   pois tudo o que eu tento ou faço
   resume-se em estar perto de ti,
   só para sentir teu cheiro
   e ao meu toque arrepiar-te os pêlos,
   pois quanto mais eu me perco em carícias,
   mais forte ficam os laços,
   essencialmente o prazer.

   Fico a perambular pelo teu corpo
   a buscar dobras e fendas,
   a encher minhas mãos com os teus seios,
   apertá-los assim por inteiro
   até sentir escorrer por tuas costas,
   teu suor e molhar meu peito,
   para depois sugar de ti o alimento,
   vinho branco, licoroso e denso
   e me embriagar até não mais poder.

   Não... ainda é cedo!
   Pois estar em ti é um direito
   que eu preciso saborear bastante
   antes de poder exercer.
   Pois quero ainda aumentar o delírio,
   o desejo, o latejar compulsivo,
   ver em teus olhos a entrega, o eu preciso
   do que os meus lábios oferecem sedentos
   aos teus outros lábios molhados, sagrados,
   pois aí, mora o tormento e o encanto,
   testemunhas que em determinado momento
   denunciam pela abundância e espasmos
   a certeza de um intenso orgasmo
   que eu fui capaz de te trazer.

   Aí sim, penetrar-te suave e premeditado,
   e lentamente levar-te a uma nova viagem
   que ao terminar nos deixará abraçados,
   adormecidos em simbiose perfeita,
   pois ao acordarmos, ainda quero estar
   abusadamente dentro de ti.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O PRAZER DE TE TER (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Ao percorrer com a língua
   o contorno dos teus lábios,
   descubro segredos, revelo desejos,
   trilhas, clareiras, preciosos atalhos,
   sagrados recantos, ansiosos, molhados.
   E ao perceber-te tão trêmula,
   exploro fronteiras sedento de cheiros,
   suores e seivas, sabores, peçonha...
   E no prazer do teu colo eu colho licores
   estranhos, selvagens.

   Melhor ter cuidado,
   pois corro o risco de ficar embriagado
   e viciado, cometer a loucura
   de nunca mais querer te perder.

   Pior é que as minhas mãos não mais obedecem,
   e os meus dedos a bolinar teus lábios...
   Não estes... Aqueles!
   Até te levar ao orgasmo,
   para depois repetir o estrago
   desta feita com meus lábios
   num caminho bem mais prolongado.

   Se de repente tu me tomas
   e me cavalgas no cio,
   sinto incendiar minhas entranhas
   e sei que esse é o fruto da tua peçonha,
   a percorrer artérias e veias
   para me deixar aniquilado,
   completamente aprisionado
   ao prazer de te ter.

   Queria poder fugir daqui bem depressa...
   Mentira! Fugir de ti eu não quero,
   pois já não sou dono do meu norte
   e o meu destino e sorte,
   é te ter inoculada ao meu corpo;
   pois já não consigo deixar de te querer.