segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O APRENDIZADO DO PESADELO


    NALDOVELHO


    Nem sempre é raso,
    nem sempre é liso;
    muitas vezes ao homem é preciso
    o exercício da aspereza,
    o mergulho nas profundezas,
    naufragar distante do cais,
    ferir seu corpo nos arrecifes de corais,
    soçobrar numa praia estranha
    prisioneiro de sua própria sanha,
    caminhar por ruas desertas
    ao sabor das horas incertas.

    O aprendizado do pesadelo
    nos reduzirá a escombros,
    nos estilhaçará por inteiro,
    mas nos ensinará sobre o bom sonho...

    O nosso acesso se dá entre os ais.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

UMA CASA SOBRE A ROCHA


    NALDOVELHO

    Tem coisas que eu não consigo entender,
    perguntas que ainda não sei fazer,
    lembranças que já não necessito guardar,
    é bem verdade, algumas teimam em me assombrar,
    mas estas ficam por conta dos demônios
    que ainda não consegui exorcizar;
    lugares onde eu não preciso mais ir,
    emoções que eu já não tenho que sentir...
    Já estou cascudo demais para certas coisas
    e hoje eu só quero a paz de continuar a existir
    na quietude da certeza de um porvir
    aonde toda a luz virá me iluminar
    e o inevitável recomeço me abençoar.
    Enquanto isso: no infinitivo vou alicerçando melhor
    a casa que eu teimo em erguer sobre a rocha,
    para no tempo certo construir mais um andar.