segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DIAS SOMBRIOS (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Dias sombrios, enlameados, visguentos.
   A lâmina afiada expondo as entranhas,
   dantesca é a visão de um corpo por dentro.

   A vida mutilada por forças tamanhas
   e um grito de dor arranha os ouvidos.
   O medo estampado num rosto ferido,
   estranho concerto, sinfonia do caos.

   O momento presente espremido em meus braços,
   misturado ao sangue de um infeliz mensageiro,
   imagem contorcida de concreto e aço
   e uma criança a implorar pelo seio da mãe.

   Um anjo assiste a tragédia que existe
   no fanático que colérico esbraveja e insiste
   em dizer que a chama depura e renova
   e que ao mártir será reservado a companhia de Deus.

   Quem foi que abriu os portões do inferno?
   Quem foi que soltou o cão raivoso?

   E a lâmina afiada prossegue nervosa
   a expor as entranhas de um homem sincero
   e de um inocente palhaço que padece em meus braços.

   Quem se atreverá a escrever num poema
   um epitáfio voraz que dê crédito ao homem
   pela libertação do tinhoso?

   Quem sabe o que a Misericórdia de Deus
   possa nos reservar?
   Longa é a estrada do ranger de dentes,
   centil por centil Ele há de cobrar.

   Ainda bem que um outro anjo se martirizou no esforço
   de tentar com os seus atos um caminho de Paz
   ao ousar um poema que traduzisse o desgosto
   daqueles que ainda crêem no que o amor possa dar.

   Longa será a seara de um dos Homens do Caminho
   que no dia de hoje retornou ao seu Lar.

   Dedicado a todos aqueles
   que pereceram em conseqüência de atos terroristas

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