quinta-feira, 22 de setembro de 2011

BACANAIS "DI VERSOS" (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   É um tal de tropeçar em palavras
   expostas desordenadas
   por todos os cantos da casa,
   e toda a vez que tento
   disciplinadamente organizá-las,
   elas teimosamente frustram
   o meu intento e sentido,
   e assim sendo insistem
   em permanecer destrambelhadas
   a atormentar o poeta
   que desesperado implora
   que cessem de uma vez com a orgia
   que a inspiração que eu temo
   semeou por aqui.

   E o pior é que algumas delas,
   promíscuas e obscenas,
   em bacanais “di versos”,
   acasalam-se compulsivas
   às sonoridades profanas
   e desavergonhadamente assumidas
   das miscigenações desta vida
   e acabam por gerar melodias
   que dissonantes e estranhas
   tentam seduzir o poeta
   a aderir à anarquia
   que a inquietude que eu sinto
   disseminou por aqui.

   Ainda bem que existem as telas,
   paisagens de monocromáticos matizes,
   e mesmo que gélidas e inóspitas,
   concedem-me o asilo preciso
   na solidão que eu cultivo,
   e que harmoniza o poeta,
   permitindo, então,
   que eu possa prosseguir.

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