sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

HÁ QUEM DIGA MUITA COISA! (LUZ E SOMBRAS)


    NALDOVELHO

    Havia um cheiro de nostalgia
    nas palavras que ele inventava.

    Há quem diga que ele gostava
    de se vestir de outono,
    só pra ficar patente os caminhos
    que ele fora obrigado a trilhar,
    e que costumava ficar abraçado à saudade
    de um tempo que não existira
    e que por isso ele inventava
    os amores que tivera que abandonar.

    Havia toda uma viscosidade tênue
    nas palavras que ele costumava macerar.

    Há quem diga que elas eram ardidas,
    secreção originada das feridas
    que o tempo não conseguira cicatrizar,
    e que toda a vez que elas escorriam
    o poeta transmitia um pouco
    dos sonhos que não ousara sonhar.

    Há quem diga muita coisa!
    Mas só o poema sabia
    dos fantasmas que moravam
    naquele lugar.  

domingo, 8 de janeiro de 2012

PALAVRA TARDIA (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   A palavra sobre a pedra fria
   mastigava a letra morta.
   A sombra que ela trazia
   lamentava a própria sorte:
   palavra tardia esta tal de poesia! 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

CIDADE DOS LOUCOS (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Ao amanhecer naquela cidade eu via
   pessoas em busca de coisas
   essenciais para que pudessem viver,
   mas ao mesmo tempo em que buscavam
   perdiam outras inerentes ao seu ser.

   E era um tal de olhar com os olhos dos outros
   mas ao tentar falar não conseguiam
   pois o que tinham a dizer já havia sido dito
   por bocas que haviam acabado de perder.

   E ao tentar escutar já não podiam,
   pois seus ouvidos não mais lhes pertenciam,
   e correr também não!
   pois suas pernas num repente desapareciam
   e não havia nada que pudessem fazer.

   No amanhecer de um novo dia eu via
   pessoas em busca de suas partes,
   aquelas que no dia anterior perdiam,
   e ao encontrá-las descobriam
   que ainda assim lhes faltavam coisas
   essenciais para que pudessem viver.

   E era um tal de olhar com seus próprios olhos,
   mas por mais que tentassem não conseguiam,
   pois perceber ainda não sabiam,
   e apesar de ouvir também não entendiam
   o real significado das coisas
   essenciais para que pudessem crescer.

   Cidade estranha aquela!
   Pois as pessoas que por ali moravam
   depois de um tempo não mais sabiam,
   se procuravam as partes que lhe pertenciam
   ou se buscavam coisas que ainda não mereciam.

   E assim viviam aqueles, dia após dia,
   até que depois de um bom tempo,
   libertados da agonia, 
   não precisassem mais amanhecer. 

RIO ANTIGO (LETRA DE MÚSICA)


     Para escutar a música no Recanto das Letras 
    Na voz de Luciana Lazulli
   
   NALDOVELHO

   Quero janelas abertas,
   luz direta da rua,
   quero escutar a conversa
   do poeta ao luar

   Quero uma flauta transversa,
   violões pelas ruas,
   quero a cantiga antiga
   e um romance no ar.

   Quero o meu Rio antigo, meus sonhos,
   quero o carinho e o aconchego
   no prazer de te amar.

   Madrugadas sem pressa,
   clarineta e um trombone,
   Pixinguinha a me abençoar.

   Quero o meu Rio antigo, meus sonhos,
   quero o carinho e o aconchego,
   no prazer de te amar.

   Madrugadas sem pressa,
   clarineta e um trombone,
   Pixinguinha a me abençoar.