sábado, 30 de julho de 2011

UM CULTO À SOLIDÃO

   NALDOVELHO

   Ser íntimo das pedras,
   esquisitice de quem acredita em gnomos,
   de quem vive de colher ervas, raízes, remédios,
   para curar gasturas de desenganos,
   e tem mania de águas que escorrem
   por lágrimas, filetes, córregos, riachos,
   e que busca macerar no orvalho
   sementes de palavras ainda grunhidas,
   e que tira dos significados seu sumo
   até transformá-los em versos

   Ser íntimo dos ventos,
   coisa de gente aluada
   nascida em noite plena de inverno,
   e que ao mijar na cara da parteira
   mostrou que ali estava
   para cometer transgressões

   Ser íntimo das madrugadas desertas,
   coisa de gente curtida
   na nostalgia que alimenta o  poema,
   no abandono de quem ousou ser sem casca,
   vísceras expostas espalhadas pelo quarto,
   olhos viciados em apreciar detalhes...

   Na aspereza da pedra um culto à solidão.

  UN CULTO ALA SOLITUDINE
   NALDOVELHO

   La vicinanza delle pietre,
   stranezze di coloro che credono ai gnomi
   di coloro che vivono a raccogliere
   erbe, radici, medicine,
   per guarire fastidi di delusioni,
   e ha deliri di acque che scorrono
   dalle lacrime, filetti, ruscelli, torrenti,
   e cerca di macerare nella rugiada
   seme di parole seme ancora grugnì,
   e toglie dai significati il suo succo
   fino a trasformarli in versi

   La vicinanza dei venti,
   cosa di gente lunatica
   nata nella notte in pieno inverno,
   e il culo di fronte alla levatrice
   ha dimostrato che li è stato
   per commettere trasgressione.

   Essere intimo dalle notte deserte,
   cosa di gente vissuta
   nostalgia che nutre la poesia,
   nell'abbandono di coloro che hanno osato
   ad essere senza gusci,
   viscere esposte per tutto il trimestre,
   occhi viziatti ad apprezzare dettagli ...

   Nella rugosità della pietra
   in un culto alla solitudine.

   Traduzido para o italiano por Fernanda Bellotti

PREVISÃO DO TEMPO

   

   NALDOVELHO

   Está previsto que amanhã
   será um dia frio e estranho,
   sudoeste na orla, rajadas de vento,
   fortes pancadas de chuva...
   Melhor recolher os panos,
   fechar janelas de fora,
   deixar abertas as de dentro,
   guardar na gaveta os talheres,
   e ainda que eu não saiba o porquê:
   proteger imagens de santos,
   cobrir pela casa os espelhos,
   e proteger os bichos num quarto,
   pois da última vez que veio
   tempestade espalhou meus gatos,
   foi uma merda pra juntar depois.

   Está previsto também
   que o mar ficará muito nervoso,
   embarcações a deriva
   e o povo todo ansioso
   com as coisas andando sem rumo,
   com as águas espancando o rochedo,
   que até a sereia, coitada,
   vai se esconder lá em casa
   a espera que o tempo melhore
   e ela possa voltar ao seu lar.

   Esta previsto que o tempo
   irá ficar assim por um tempo,
   e enquanto isso a sereia
   aconchegada em meu quarto
   tecerá teias de encantos,
   e aninhada em meus braços
   escreverá em meu corpo poemas
   que dirão da dor que ela sente,
   pois quando tiver que ir embora
   não vai poder me levar.

  WEATHER FORECAST
   NALDOVELHO

   It is envisaged that tomorrow
   will be a cold day and strange,
   Southwest in Waterside, gusts of wind,
   heavy rainfall ...
   Better collect the cloths,
   close out Windows
   leave open from within,
   keep in the drawer the silverware,
   and though I don't know why:
   protect images of Saints,
   cover by House mirrors,
   and protect the animals in a room,
   Since the last time you came
   the storm spread my cats,
   was a shit to join later.

   It is planned also
   that the sea will be very nervous,
   drift boats
   and the people all looking forward
   with things walking aimlessly,
   with the waters beating the rock,
   even the Mermaid, poor,
   will hide there at home
   the wait time improve
   and she can return to your home.

   This provided that the time
   will remain so for a while,
   and meanwhile the mermaid
   wrapped up in my room
   or webs of charms,
   and nested in my arms
   will write in my body poems
   that tell of the pain she feels,
   because when you have to walk away
   you won't be able to take me.

   Translation for English by Marlene Nass

PALAVRA DA LIBERTAÇÃO

   NALDOVELHO

   Entre a luz e a escuridão
   existe uma cidade chamada desencanto.
   Ruas estreitas, portas e janelas fechadas,
   sentimento de clausura, angustia e solidão.
   Lá, todos os becos são sombrios,
   os meio-fios escorregadios,
   os sorrisos amarelados e os olhares arredios.

   Entre a luz e a escuridão
   um grito permanece engasgado
   e a ternura se faz de morta
   a espera da extrema unção.
   Lá, todos os beijos são amargos,
   o carinho é sempre abortado,
   e o poesia fica entristecida
   toda vez que eu digo não.

   Entre a luz e a escuridão
   existem duas possibilidades:
   ou me transformo em lasca de pedra,  
   resto de demolição;
   ou viro passageiro das águas
   de um rio chamado inquietude
   e vou desaguar bem distante...
   Palavra da libertação! 


   PAROLE DI LIBERTAZIONE
   NALDOVELHO

   Tra luce e tenebre
   C'è una città chiamata disincanto.
   Strade strette, porte e finestre chiuse,
   senso di chiusura, angoscia e solitudine.
   Lì, tutti i vicoli sono scuri,
   i marciapiedi scivolosi,
   ingiallimento dei sorrisi e sguardi in disparte.

   Tra luce e tenebre
   rimane un grido soffocato
   e la tenerezza si fa di morta
   in attesa per l'estrema unzione .
   Lì, tutti i baci sono amari,
   l'affetto è sempre interrotto,
   e la poesia è rattristata
   ogni volta che dico no.

   Tra luce e tenebre
   Ci sono due possibilità:
   o mi si trasformano in scaglie di pietra,
   resto della demolizione;
   o mi trasformo in passeggero d'acqua
   di un fiume chiamato inquietudine
   sbboccando lontano ...
   Parole di libertazione!

O SENTIDO DOS MEUS VERSOS

    Tela: Solidão de autoria de Naldo Velho
  
    NALDOVELHO

    Quando aprendi a escrever versos,
    comecei a fazê-los em silêncio,
    imperceptíveis se olhados por fora,
    claros se percebidos por dentro.
    Aprendi a falar sobre o tempo
    do amor que trazia em meus olhos
    que por mais que me olhassem por horas
    nunca perceberam-me o intento.

    Quando me vi no umbigo em clausura,
    comecei a olhar os de fora,
    vi que a dor que se sente
    não é entre nós tão diferente.
    Aprendi a falar sobre o engano
    como quem fatia o corpo em postas
    e que a vida é feita de perdas,
    que ensinam a abrir novas portas.

    Quando recebi alvará de soltura,
    fiz do verso a amplitude da loucura,
    viajei por enredos estranhos,
    todos eles em desalinho.
    Aprendi que os anjos são eternos,
    e que a colheita se faz nos caminhos,
    sementes de poesia em versos
    que alguém por aqui nos deixou.

    Quando resolvi ser poeta,
    sabia da solidão a que me impunha,
    quis ser anjo, ser sonho, ser terno,
    semente a ser colhida ao seu tempo.
    Aprendi que o sentido do verso,
    é ser parte da existência no alicerce,
    ainda que nem saibam o meu nome,
    e as minhas palavras se percam depois. 

   THE SENSE OF MY VERSES
    NALDOVELHO

    When I learnt to write verses,
    I began to do them in silence,
    imperceptible if looked outside,
    clear if realized on the inside.
    I learnt to speak on the time
    of the love that it was bringing in my eyes
    what however much they were looking at me for hours
    they never realized me the intention.

    When I saw myself in the navel in enclosure,
    I began to look at them from the outside,
    I saw that the pain that is felt
    it is not between us so differently.
    I learnt to speak on the mistake
    like whom it slices the body in pieces
    and that the life is done from losses,
    what teach opening new doors.

    When I received permit of looseness,
    I did from the verse the amplitude of the madness,
    I toured strange plots,
    all of them in untidiness.
    I learnt that the angels are eternal,
    and what the harvest does to itself in the ways,
    seeds of poetry in verses
    that someone this way left us.

    When I resolved to be a poet,
    he knew of the solitude that it was imposing on me,
    he wanted to be an angel, to be a dream, to be a suit,
    seed to be gathered at his time.
    I learnt that the sense of the verse,
    it is to be a part of the existence in the foundation,
    though they do not even know my name,
    and my words are lost then.

    Translated into English for Marlene Nass

    LE SENS DE MON VERSETS
    NALDOVELHO

    Lorsque j'ai appris à écrire des versets,
    J'ai commencé à faire leur en silence,
    si imperceptible regardé de l'extérieur,
    clair si perçu d'intérieur.
    J'ai appris à parler de la météo.
    de l'amour qui ont entraîné dans mes yeux
    qu'en plus de chercher heures
    jamais rendu compte de l'intention.

    Quand j'ai vu sur le nombril de clausura,
    J'ai commencé à regarder à l'extérieur,
    J'ai vu que la douleur qui se sent
    n'est pas entre nous si différents.
    J'ai appris à parler de l'erreur.
    comme qui mis le corps en tranche
    et que la vie est faite de pertes,
    Cela vous apprendra comment ouvrir de nouvelles portes.

    Quand j'ai reçu une Charte de la libération,
    a l'arrière de l'ampleur de la folie,
    J'ai voyagé par étranges parcelles,
    toutes en quelque peu échevelée lit.
    J'ai appris que les anges sont éternels,
    et que l'acquisition se déroule dans les chemins d'accès,
    graines de la poésie dans les versets
    quelqu'un ici nous a quitté.

    Quand j'ai décidé d'être un poète,
    savait de solitude qui fait de moi,
    voulait être Angel, rêver, être costume,
    semences à prendre votre temps.
    J'ai appris que le sens du verset,
    est faisant partie de l'existence de la Fondation,
    Bien que ne savent pas mon nom,
    et mes mots sont perdus par la suite.

    Traduit en Français par Marlene Nass

O POEMA SE ALIMENTA DE ESCOMBROS

   NALDOVELHO

   Vivo de destruir memórias,
   sonhos nostálgicos, lembranças, histórias;
   tudo muito bem demolido,
   até que fragmentos possam
   ceder os significados
   que os versos pretendem.
   Papel em branco sobre a mesa,
   o poema se alimenta de escombros.

   Vivo de desconstruir muralhas,
   de me perder em caminhos, atalhos,
   de submergir em águas revoltas,
   e ser levado por corredeiras
   até desaguar em algum canto,
   meio náufrago, meio lama,
   meio poeta, meio entulho,
   renascer de mim outra vez.

   Gosto de me aprisionar em teias,
   lutar, sobreviver à aranha,
   e ainda que entorpecido pela peçonha,
   romper amarras, atravessar fronteiras,
   beber o antídoto das mãos de uma Iara,
   e sob a luz da lua cheira
   ver dissolvidas as dores
   cristalizadas em mim.

   Gosto de ser farpa espetada que arde,
   erva curtida em veneno de serpente,
   chuva que molha a vidraça por dentro,
   vento que move o moinho ao contrário,
   guardião da palavra, fiel depositário,
   cantiga, toada, lamento, procura,
   coisa maldita, inquietude, loucura,
   candeeiro aceso no meio da imensidão.


   THE POEM FEEDS ON DEBRIS
   NALDOVELHO

   Live to destroy memories,
   nostalgic dreams, memories, stories;
   everything very well demolished,
   until fragments can
   cede the meanings
   that the verses are.
   White paper on the table,
   the poem feeds on debris.

   Live deconstruct walls,
   I lose on paths, shortcuts,
   of submerging in water revolts,
   and be carried away by Rapids
   until it empties into some corner,
   Middle Castaway, means mud,
   means poet, using rubble,
   rebirth of me again.

   Like me imprison in webs,
   fight, survive the spider,
   and even though numbed by Venom,
   break the shackles, crossing borders,
   drink the antidote of the hands of an Iara,
   and under the light of the Moon smells
   see dissolved the pains
   crystallized in me.

   Like being Barb kebab that burns,
   grass snake venom, tanned in
   rain that moistens the glazing inside,
   wind which moves the mill unlike,
   guardian of the word, trustee,
   ballad, melody, regret, demand,
   the accursed thing, restlessness, madness,
   lamp lit in the middle of the immensity.

   Translation for English by Marlene Nass

   LE POÈME SE NOURRIT DE DÉBRIS
   NALDOVELHO

   Vivre à détruire les souvenirs,
   rêves nostalgiques, des souvenirs, des histoires ;
   tout ce qui est très bien démoli,
   jusqu'à ce que les fragments peuvent
   céder les significations
   que les versets sont.
   Livre blanc sur la table,
   le poème se nourrit de débris.

   Vivre déconstruire les murs,
   Je perds sur des chemins, raccourcis,
   de submersion dans l'eau révoltes,
   et être emporté par Rapids
   jusqu'à ce qu'elle se jette dans un coin,
   Middle Castaway, signifie la boue,
   poète de moyens, à l'aide de gravats,
   Renaissance de moi à nouveau.

   Comme moi emprisonner dans les réseaux,
   fight, survivre l'araignée,
   et même si engourdi par le venin,
   briser les entraves, franchissement des frontières,
   boire l'antidote d'entre les mains d'un Iara
   et sous la lumière de la Lune d'odeurs
   voir dissout les douleurs
   cristallisé en moi.

   Comme étant kebab Barb que burns,
   venin de serpent de l'herbe, tannées dans
   pluie qui saupoudre le vitrage à l'intérieur,
   vent qui déplace l'usine contrairement,
   tuteur du mot, syndic,
   Tonalité, chansonnette, à regret, demande,
   la chose maudit, l'agitation, la folie,
   lampe allumée dans le milieu de l'immensité.

   Traduit en Français par Marlene Nass

O HOMEM APRISIONADO AO SEU UMBIGO

   NALDOVELHO

   Envolto em sombras
   o homem aprisionado ao seu umbigo
   olha em direção ao nada,
   fuma um cigarro atrás do outro
   e por estranho que pareça
   não percebe o que existe
   além de si mesmo.
   Não entende que a clausura
   o alimenta e consome,
   não sabe da lágrima que escorre
   no aceno do adeus,
   nem do sorriso da mulher
   abraçada no aconchego
   de um amor que é só seu.

   O homem aprisionado ao seu umbigo
   já nem sabe o que o espera,
   pois na linha do horizonte
   muito pouco se revela
   para quem não acredita
   que faz parte desta vida
   o caminho e o tropeço,
   que todo rumo é certo e errado,
   que o tempo que se tem
   é infinito em procuras,
   e que a eternidade é uma escolha
   para quem ousa acreditar.

   O homem aprisionado ao seu umbigo
   não saboreia frutas tenras,
   pois o medo o domina
   e o impede de voar.

O ANJO QUE MORA EM MEU QUARTO

   NALDOVELHO

   O anjo que mora em meu quarto
   às vezes diz tantas coisas,
   em outras fica em silêncio...
   Quando fala ilumina o ambiente,
   quando cala permite que eu tente.

   O anjo que mora em meu quarto
   gosta de varar madrugadas,
   diz ser íntimo das águas
   e sabe a linguagem dos ventos,
   vez por outra ainda fuma um cigarro,
   e toma uma boa aguardente...
   Anjo esquisito, este, que adora cometer heresias,
   e ainda assim acredita em milagres.

   O anjo que mora em meu quarto
   tem penas de arrependimento,
   cicatrizes de escolhas erradas,
   vez por outra ainda sangra e chora
   e diz que quer ir embora,
   mas é só mais um lamento,
   pois de asas quebradas não consegue voar.



   THE ANGEL THAT LIVES IN MY ROOM
   NALDOVELHO

   The angel that lives in my room
   sometimes says many things,
   in other stands in silence ...
   When speaks illuminates the environment,
   When conceals allows me to try.

   The angel that lives in my room
   like would dawn,
   says be intimate waters
   and know the language of the winds,
   time for yet another smokes a cigarette,
   and takes a good spirits ...
   Weird, this Angel, who loves commit heresy,
   and still believes in miracles.

   The angel that lives in my room
   has feathers of repentance,
   scars of wrong choices,
   time for another still bleeds and cries
   and says he wants to go away,
   but it's just another regret,
   because of broken wings cannot fly.

   Translation for English by Marlene Nass

   L'ANGE QUI VIT DANS MA CHAMBRE
   NALDOVELHO

   L'Ange qui vit dans ma chambre
   parfois, dit beaucoup de choses,
   dans les autres peuplements en silence...
   Lorsque parle illumine l'environnement,
   Lorsque silencieux me permet d'essayer.

   L'Ange qui vit dans ma chambre
   comme l'aurait aube,
   affirme être intimes eaux
   et connaître la langue des vents,
   une cigarette, le temps pour un autre fumeur
   et prend une bonne humeur...
   Bizarre, cet ange, qui aime s'engagent hérésie,
   et encore croire aux miracles.

   L'Ange qui vit dans ma chambre
   ont des plumes de repentance,
   cicatrices de mauvais choix,
   temps pour un autre encore les fonds perdus et pleure
   et dit qu'il veut aller plus loin,
   mais c'est juste un autre regret,
   en raison des ailes brisées ne peuvent pas voler.

   Traduit en Français par Marlene Nass