segunda-feira, 19 de setembro de 2011

POEMA DILACERADO (ARQUIVO)


      NALDOVELHO

      Por saberes, segredos, essências,
      sacramentos, sagradas sementes.

      Sangue, suor e saliva,
      saboreados assim indecentes.

      As lágrimas que eu trago comigo,
      são salgadas, veneno latente.

      Silenciosa e insidiosa serpente
      que na tocaia sibila contente.

      Um bardo a buscar um consolo
      num poema feroz e indecente,
      cantou cantigas de um tolo,
      afogou-se em tonéis de aguardente.

      Um palhaço lamenta e chora
      a desdita de um ser tão descrente.

      A poesia que eu trago comigo
      já não jorra da mesma nascente.

      Profanei os meus templos, faz tempo,
      naufraguei bem próximo ao cais,
      soçobraram os meus sentimentos,
      só restaram alguns poucos ais.

      Saberes, segredos, sementes,
      sangue, suor e aguardente,
      gotejando do canto dos lábios,
      letras frias demais!

      A poesia que restou sem abrigo,
      versos tortos paridos ardidos,
      só destoam e ainda que doam,
      não conseguem trazer-me à paz.

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