sexta-feira, 14 de abril de 2017

E EU SEM SABER O QUE FAZER DA SAUDADE

    NALDOVELHO

    E mais uma vez eu tento remontar o cenário.
    Em minha mente um maço de cigarros, quase vazio,
    em cima da mesa um cinzeiro lotado
    e uma garrafa de conhaque já pela metade...
    Noite fria e chuvosa de julho,
    e aqui dentro do quarto Belchior canta paralelas:
    paixão, desencontro, desencanto, solidão.
    E eu sem saber o que fazer da saudade,
    percebo vazios, estios, embaraçados os fios...
    A cama desarrumada, cobertor pelo chão  
    e os meus travesseiros massacrados pela solidão.
    
    Mantenho sempre a janela entreaberta,
    apesar do vento frio que vez por outra me invade. 
    Mantenho sempre a luz do abajur acesa,
    um bloco de papel sobre a mesa,
    e exorcizei fantasmas, tristezas.
    Faz tempo não fumo mais cigarros,
    tão pouco bebo do maldito conhaque,
    cauterizou velhas feridas, mas trouxe hemorragia...

    Faz tempo não perambulo pelas ruas da cidade
    e eu continuo sem saber o que fazer da saudade.












quinta-feira, 13 de abril de 2017

UMA VELA ACESA NUM QUARTO ESCURO

    NALDOVELHO

    Uma vela acesa num quarto escuro,
    a necessidade de derrubar um muro,
    é preciso abrir tramelas, portas, janelas, cancelas,
    refletir sobre as coisas que a vida nos revela,
    caminhar noite adentro, madrugadas ao relento,
    viajar com as asas que temos por dentro,
    atravessar ruas, dobrar esquinas,
    aprender passo a passo sobre o que a dor nos ensina,
    quebrar correntes que nos mantém em clausura,
    buscar no carinho ofertado um verso de ternura,
    é preciso colher os frutos trazidos pela inquietude,
    semear esperanças, buscar amplitudes,
    tirar a venda que nos impede a visão,
    libertar a palavra aprisionada em minha solidão.