quinta-feira, 21 de março de 2013

NAS PAREDES DAQUELA CASA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

    Nas paredes daquela casa
    fervilhava impunemente o silêncio
    e aqueles que ali moravam não conseguiam
    materializar sentimentos.
    Não eram capazes de um gesto
    de ternura ou aborrecimento,
    soturnas e inexpressivas
    apenas observavam
    o caminhar lento do tempo.

   E no quintal, um buraco enorme e lamacento;
   onde eram despejadas todas as horas passadas.
   Nada lhes restava preservado,
   nem por fora nem por dentro.
   No jardim, flores ressequidas e espinhentas.

   Beija-flor volta meia por ali passava
   e observava com tristeza,
   sem conseguir entender o porquê,
   chorava!

domingo, 17 de março de 2013

FONTE DOS MEUS LAMENTOS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Certa feita fui um pássaro
   com asas de firmamento,
   que por mais distante que voasse,
   nunca que encontrava
   a fonte dos meus lamentos.

   Rompi fronteiras, sangrei cordilheiras,
   desafiei o tempo e o vento,
   e nada!

   Hoje, já velho e cansado, descobri
   que a fonte dos meus lamentos,
   só consigo encontrar
   com asas de voar por dentro.

quinta-feira, 14 de março de 2013

APRENDENDO A DANÇAR COM A LUA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


     NALDOVELHO

    Convidei a lua pra dançar,
    ela respondeu que não!
    Disse-me que antes
    eu aprendesse a andar
    pelo lado escuro da rua,
    a escutar a voz
    que se sobrepõe ao silêncio,
    a perceber as sombras
    que se movem por dentro
    e a sobreviver a perda
    de um grande amor.
    Que só então lhe retornasse o convite,
    mas que viesse acompanhado
    de um triste e dolorido poema.
    
    Lua sabida esta!
    Só aceita dançar com aquele
    que ela não consegue devorar.  

quarta-feira, 13 de março de 2013

FOI O VELHO QUEM MANDOU - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


POEMA INSPIRADO NUMA TELA DE MICHAEL TOLLESON
FOI O VELHO QUEM MANDOU
NALDOVELHO

Falem bem baixinho!
Os que por aqui moram, ainda dormem,
não sabem da minha existência aqui fora,
nem que, faz tempo, eu velo pelos seus sonhos
e que a nostalgia que os habita
mantem acesa a lágrima, a dádiva, a emoção.

Não deixo nunca que esqueçam,
que sua casa respira, transpira
e que em suas paredes ficam registradas
toda a historia que souberam escrever,
e que o chão onde pisam é raiz
de crescimento e evolução.

Não deixo que esqueçam
que a rua onde moram é fonte
e que ao manter a calçada limpa
impedem que a dor lhes faça mal
aos corações.

Falem bem baixinho!
O povo das ruas agradece.
Desta porteira cuido eu,
foi o Velho quem mandou.

domingo, 3 de março de 2013

MEU ÚLTIMO POEMA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

   Palavras escondem lamentos
   que só os doídos por dentro
   conseguem se aperceber.
   Histórias aos pedaços, memórias,
   vestígios de lágrimas, fragmentos
   de poemas abortados pelo medo
   de se sofrer além da conta
   por não resistir a lembrança
   de quem hoje vive longe demais.

   Por isto meu último poema
   vai se permitir dobrar esquinas,
   vai ignorar seu rosto de menina,
   vai rasgar todos as suas cartas,
   vai recusar o último beijo
   e vai parar de olhar para trás.  

   Por isto meu último poema
   vai enterrar de vez a saudade,
   queimar lençóis, travesseiros e fronhas
   na esperança de sumir com o seu cheiro  
   pois ao amanhecer já será outono
   de folhas mortas pelas ruas da cidade
   e na próxima esquina o esquecimento
   já terá tomado conta de mim.

   Por isto o meu último poema
   vai sair de cena sem fazer alarde,
   antes mesmo que possa ser lido,
   pois serão apenas palavras amontoadas,
   dispostas sem o menor sentido,
   coisa para feita para que ninguém possa entender.