sábado, 10 de setembro de 2011

O INESPERADO


NALDOVELHO

O inesperado, deliciosamente inusitado...  Incidentalmente a mão esbarra e eu percebo a maciez do seu seio.  Encabulado, busco disfarçar o desconforto, nada mais apropriado do que a mão no bolso, a outra em busca de um cigarro, disfarça, mas não nega e treme!

Arrisco um olhar assim de soslaio e percebo um certo ar de consentimento, de cumplicidade e até de convencimento, de quem sabe que acabou fazer um estrago.  Qualquer hora dessas o acidental vira propositado e o incidental vira premeditado e provavelmente vai ser ainda maior o estrago, pois a textura da sua pele demonstra o quanto eu estou à mercê do perigo e o seu cheiro em minha mão só faz aumentar o que eu digo.  Parece até brincadeira, tipo gata querendo devorar passarinho por atiradeira ferido.

Lá vem você de novo, a se aproximar sorrateira e eu aqui, a observar o contorno das suas coxas, vestido fino a denunciar suas linhas, conteúdos contundentes...  E o medo que eu tenho de me embaraçar, tipo novelo de lã nas mãos de menina felina, de narinas dilatadas e olhos perigosamente vidrados, que se movem lentamente mostrando todo o cuidado, que é pra não espantar a caça. Pobre de mim: vou virar presa entre os dentes e acabar sendo devorado inteiramente.

Lugar ermo, meio imprensado, escada de incêndio, área de escape e eu assim acuado, misto de quero e só quero, não tentar escapar da cilada que você habilmente armou. Seu hálito, seu cheiro, campo minado, atalho forçado, porém tão desejado. 

Melhor não resistir, deixar que me crave as presas, deixar que minhas mãos percorram bordas, margens, represas prontas a transbordar e inundar meus sentidos.  Cachoeiras, correntezas, abrigos e eu aqui querendo firmar as pernas, entrelaçadas às suas pernas, sentindo em minha boca o gosto de sua língua, irrequieta, atrevida e molhada...

Melhor fechar os olhos, melhor deixá-los abertos, não dá pra controlar o incerto, nem minhas mãos em seus seios, nem suas mãos a explorar meu desejo de lhe fazer inundada. Você se encaixa, permite que eu penetre ardido, numa dança visceral e insana, o suor a escorrer do seu corpo, misturando-se ao suor do meu corpo, em movimentos harmonizados, completos. Contrações, espasmos, orgasmo e eu transbordado viajo e me entrego assim consumido e desgovernado, ao poder da sua peçonha, e as contrações que ainda restam em seu corpo.  E em seus olhos reside uma diversidade de gostos, de mulher saciada e tão plena, que permanece, teimosamente, encaixada, e que olhando em meus olhos assustados, recomeça o ritual, e me aperta, contraí suas partes molhadas e ao mesmo tempo sedentas, se atrita e se move faminta, em busca de uma nova e louca viagem até não mais poder.

Corredor amplo, iluminado, passos rápidos e disfarçados. Um olhar de cumplicidade atenta, um pacto de silêncio em seus olhos, um sorriso maldosamente endereçado e um recado estampado no rosto: qualquer hora a gente se vê!          


Nenhum comentário:

Postar um comentário