NALDOVELHO
O
inesperado, deliciosamente inusitado...
Incidentalmente a mão esbarra e eu percebo a maciez do seu seio. Encabulado, busco disfarçar o desconforto,
nada mais apropriado do que a mão no bolso, a outra em busca de um cigarro, disfarça,
mas não nega e treme!
Arrisco
um olhar assim de soslaio e percebo um certo ar de consentimento, de
cumplicidade e até de convencimento, de quem sabe que acabou fazer um
estrago. Qualquer hora dessas o
acidental vira propositado e o incidental vira premeditado e provavelmente vai
ser ainda maior o estrago, pois a textura da sua pele demonstra o quanto eu
estou à mercê do perigo e o seu cheiro em minha mão só faz aumentar o que eu
digo. Parece até brincadeira, tipo gata
querendo devorar passarinho por atiradeira ferido.
Lá
vem você de novo, a se aproximar sorrateira e eu aqui, a observar o contorno
das suas coxas, vestido fino a denunciar suas linhas, conteúdos
contundentes... E o medo que eu tenho de
me embaraçar, tipo novelo de lã nas mãos de menina felina, de narinas dilatadas
e olhos perigosamente vidrados, que se movem lentamente mostrando todo o
cuidado, que é pra não espantar a caça. Pobre de mim: vou virar presa entre os
dentes e acabar sendo devorado inteiramente.
Lugar
ermo, meio imprensado, escada de incêndio, área de escape e eu assim acuado,
misto de quero e só quero, não tentar escapar da cilada que você habilmente
armou. Seu hálito, seu cheiro, campo minado, atalho forçado, porém tão
desejado.
Melhor
não resistir, deixar que me crave as presas, deixar que minhas mãos percorram
bordas, margens, represas prontas a transbordar e inundar meus sentidos. Cachoeiras, correntezas, abrigos e eu aqui
querendo firmar as pernas, entrelaçadas às suas pernas, sentindo em minha boca
o gosto de sua língua, irrequieta, atrevida e molhada...
Melhor
fechar os olhos, melhor deixá-los abertos, não dá pra controlar o incerto, nem
minhas mãos em seus seios, nem suas mãos a explorar meu desejo de lhe fazer
inundada. Você se encaixa, permite que eu penetre ardido, numa dança visceral e
insana, o suor a escorrer do seu corpo, misturando-se ao suor do meu corpo, em
movimentos harmonizados, completos. Contrações, espasmos, orgasmo e eu
transbordado viajo e me entrego assim consumido e desgovernado, ao poder da sua
peçonha, e as contrações que ainda restam em seu corpo. E em seus olhos reside uma
diversidade de gostos, de mulher saciada e tão plena, que permanece,
teimosamente, encaixada, e que olhando em meus olhos assustados, recomeça o
ritual, e me aperta, contraí suas partes molhadas e ao mesmo tempo sedentas, se
atrita e se move faminta, em busca de uma nova e louca viagem até não mais
poder.
Corredor
amplo, iluminado, passos rápidos e disfarçados. Um olhar de cumplicidade
atenta, um pacto de silêncio em seus olhos, um sorriso maldosamente endereçado
e um recado estampado no rosto: qualquer hora a gente se vê!
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