sábado, 10 de setembro de 2011

DAS POSSIBILIDADES

NALDOVELHO

É possível que, qualquer dia desses, eu vá até Índia, e lá estando, purifique o meu corpo no Ganges. Depois, vá conhecer o Taj Mahal e, finalmente, num templo budista, devidamente incensado, consiga elevar de vez minha alma e atingir o tão falado Nirvana.

É possível que, nesse mesmo instante, do outro lado do oceano, alguém esteja a dizer: quantas besteiras fizemos! Poderia ter sido diferente.

É possível que em minha volta ao Brasil, quando ao caminhar pelas ruas da cidade, eu morra de bala perdida. Afinal estamos no Rio de Janeiro e esse tipo de coisa já faz parte do cotidiano. É possível, porém, que isso não aconteça e que o meu Santo Padroeiro continue a abençoar o poeta, mantendo-o vivo e por inteiro.

É possível que, ao sobreviver, eu escreva um livro de contos. É possível, até, que eu continue a escrever poemas e componha de quebra uma linda cantiga, só para enaltecer em nós, os desencontros desta vida.

É possível que a Poeta da Pena Inquieta, descubra que o velho que lhe levou as ervas, vez por outra, lhe faz uma visita e, encantado pela qualidade dos seus versos, diga assim orgulhoso: eu bem que avisei!

É possível que, por amor as minhas raízes, eu tome um trem e vá a Recreio, e de quebra dê um pulinho até Leopoldina...  Quem sabe possa descobrir o paradeiro da Nana? Impossível, vai ser, não visitar a Chácara do Desengano. Quantas preciosas lembranças eu guardo daquele lugar.

É possível que, num dia desses, a Carolina Ferraz, ao olhar bem dentro dos meus olhos assim diga: Eu nunca te vi, mas sei que te amo!  É possível que o leitor desavisado, ao ler esta prosa, assim diga: coitado! Ainda não desaprendeu a sonhar.

É possível que aqueles que hoje se escondem e se negam ao poema, descubram que a dor que se faz contida explode um dia em ferida, difícil de se curar.  É possível que descubram o endereço: estação dos versos confessos, onde o lapidar constante transforma coisa cristalizada em poema.

É possível, infelizmente, que nada disso aconteça! No entanto, sempre valerá a pena, pois já disse: sou um tolo, um poeta que acredita até gnomos.

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