segunda-feira, 12 de setembro de 2011

FLOR DE LIS (LUZ E SOMBRAS)

   NALDOVELHO

   Um trem na estação anuncia a partida,
   um navio malvado levou minha amada.
   Estrada que segue e anuncia a distância
   e a rosa, tão linda, despetalada no chão.

   Madrugadas repletas de amores dispersos,
   desencontros, viagens, cicatrizes, feridas,
   a saudade inclemente aninhada em meu peito
   e o espinho da rosa sangrou minha mão.

   O vento varreu o outono pra longe,
   trouxe chuva insistente, noites tão frias,
   calou as conversas, esquinas desertas,
   foragida a lua pra bem longe daqui.

   Palavras que em versos se mostram estranhas
   e acasaladas, insanas, inventam a cantiga.
   Sonoridade profana, orgia de versos,
   remédio pras dores do desamor.

   Mandei construir no quintal lá de casa
   um templo sem portas, janelas, tramelas,
   um templo de versos, cantigas, poemas,
   sagrei o meu pranto, semeei o meu canto,
   e orei em silêncio, aguardando o porvir.

   Notícias dos longes dão conta que em breve
   um outro navio vai aportar por aqui,
   trazendo a certeza da delicadeza,
   muitas outras cantigas repletas de versos
   e ainda bem que o tempo cicatrizou as feridas,
   preservou a semente que brotou flor de lis.

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