terça-feira, 6 de setembro de 2011

É NO SILÊNCIO DA NOITE

   NALDOVELHO

   É no silêncio da noite que eu trato as feridas,
   cicatrizo cortes, curo fissuras, fraturas, entorses,
   dissolvo nódulos, lágrimas cristalizadas,
   palavras que teimam encravadas,
   poemas abortados por conta da desilusão.

   É no silêncio da noite que traço meu rumo,
   derrubo muralhas, elimino excessos,
   submeto vontades e venço minhas paixões...
   Mas só as que entopem artérias e veias, as outras,
   ainda que doam, delas não abro mão, senão a vida fica vazia,
   tipo calmaria, e eu, pedaço de pedra, cheio de limo,
   nos fundos de um quintal sombrio chamado solidão.

   É no silêncio da noite que eu percebo amplitudes.
   realço os contornos, inquietudes, virtudes,
   e atento aos contrastes reconheço meus erros,
   desdigo besteiras, destruo meus medos, revelo segredos,
   cerzidos meus panos, dissipo a neblina,
   e percebo o confronto entre o anjo e o diabo,
   acesos os archotes da madrugada que chega,
   amanheço refeito e dou fim à escuridão.

   lá fora, é setembro, e se eu bem me lembro,
   finalzinho de inverno, pencas de azaléias,
   prenúncio de uma nova estação!

Um comentário:

  1. Minha nossa, que coisa tremenda, a cada poema vc parece que se supera mais ainda, Naldo Velho, demais, bjs!

    ResponderExcluir