terça-feira, 6 de setembro de 2011

DO FUNDO DO MEU UMBIGO

   NALDOVELHO

   Um olhar indiscreto, uma porta entreaberta,
   um lenço de seda encharcado de perfume,
   um álbum de retratos amarelados pelo tempo,
   notas soltas, desconexas, dedilhadas num piano,
   algumas cantigas, baladas, toadas, boleros,
   uma garrafa de conhaque, uma cigarrilha cubana,
   um livro de contos, um punhado de cartas,
   livros empoeirados, nostalgia pra todo o lado,
   uma tapeçaria inacabada, uma tela faz tempo guardada,
   monocromático esforço de retratar o teu rosto
   e entre acertos e enganos, o sagrado e o profano;
   ainda estás nos meus sonhos, dias frios de outono,
   vez em quando perco o rumo e me ponho de castigo
   a caminhar inquieto pelas ruas da cidade,
   e escrevo poemas que exorcizem fantasmas,
   coisas desencravadas do fundo do meu umbigo.

Um comentário:

  1. muito bom. Quando crescer quero ter um pouquinho do seu talento. Parabéns. Também escrevo e tenho um livro de passagens (não digo memórias) pela décadas de 70-90 e poesias. 50 em Diante Cantos e Poesias. http://carmen-fonseca.blogspot.com.br
    Grande Abraço

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