terça-feira, 6 de setembro de 2011

E EU NÃO CONSIGO ENTENDER

   NALDOVELHO

   Trago a urgência do dia que precisa nascer,
   madrugada displicente, embaraçadas as pernas,
   você diz que me ama, mas não consegue perceber
   que eu trago águas represadas, faz tempo,
   lágrimas presas, cristalizadas, lá dentro...

   Coisa mais sem graça querer chorar e não poder.

   Trago a urgência da dor dilacerando meu corpo,
   dor de poeta que profanou a palavra,
   fez do verso faca afiada, fatiou sentimentos,
   deixou feridas expostas, prosas, poemas,
   cometeu heresias, descumpriu sacramentos...

   Você fala comigo e eu não consigo entender.

   Trago a urgência de um sonho estranho,
   diálogos interrompidos num enredo tristonho,
   janelas e portas permanecem trancadas,
   e eu sei que tenho as chaves, só não sei onde!
   Por mais que eu queira não consigo apaziguar
   a loucura que ruge em cada célula do meu ser.

   Trago a urgência do frio, da sede e da fome,
   das caminhadas solitárias, da inquietude e da insônia,
   das mãos distantes que não arriscam um carinho,
   dos braços cruzados que não permitem um abraço
   a voz embargada já não ousa a cantiga...

   Você fala comigo e eu não consigo entender!

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