quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CAMINHOS CONTRÁRIOS (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Caminho contrário à força dos ventos,
   poema do avesso, perdi meu apreço,
   ainda tenho as malas, só não sei o endereço
   e os meus olhos não vêem as margens da estrada,
   mas percebo ao longe o barulho das águas,
   o cheiro das matas, da terra molhada,
   e sinto na carne o chicote do tempo
   que vibra inclemente e traz dor de presente.

   Caminho escorregadio, perigoso, estranho,
   e tem um abismo, lado esquerdo da estrada,
   ainda que eu não o veja, sei que está lá.

   Escolhas que eu fiz e, ainda hoje, as faço,
   por íngremes picadas, acessos que eu tento,
   sempre ao relento, madrugadas molhadas.

   Solidão e tristeza numa longa jornada,
   dormir ao relento, comer quase nada,
   nenhuma estalagem que sirva aguardente,
   nenhum colo quente de beira de estrada,
   só o silêncio de outras jornadas,
   viajantes que trilham caminhos complexos,
   ainda assim, diferentes, contrários ao meu.  

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