quinta-feira, 15 de setembro de 2011

AINDA QUE EM SONHOS (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Quinas, esquinas, ruas transversas,
   vias expressas, paralelas, complexas,
   os carros se apressam, correria tamanha,
   cidade truncada, sitiada e insana.

   A sirene, o sinal, o aviso é vermelho.
   Navegar eu preciso, descobrir o segredo,
   decifrar o enigma que eu vi em seus olhos,
   renovar o meu pacto, exorcizar meus demônios.

   Se eu seguir por esta rua vou morrer numa praça,
   se eu dobrar a esquina vou cair em desgraça,
   se eu romper a fronteira vou virar um estranho,
   se eu ficar onde estou: naufragar em enganos.

   E o relógio avisa, já não há muito tempo,
   e o amor que eu tinha viajou pra bem longe,
   só deixou de presente um retrato e uns discos,
   e eu nem tenho vitrola, mesmo assim os guardo.
   Ainda tenho os poemas que eu teimo e choro,
   ainda tenho alguns quadros, luminosos matizes
   e uma sede danada, quem sabe um conhaque?
   E a inquietude ainda mora lá dentro de mim.

   Quinas, esquinas, o bairro onde eu moro
   tem uma via expressa, complexa, estranha.
   Se eu romper a fronteira vou virar um estranho,
   navegar eu preciso ainda que em sonhos.

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