segunda-feira, 12 de setembro de 2011

TESTEMUNHA OCULAR


   NALDOVELHO

   Sobre o tapete do meu quarto
   um grupo imenso de letras
   passeia alegremente.
   Um outro grupo indolente,
   preguiçosamente, sobre a cama,
   cochila impunemente.
   Mais outras tantas, no sofá, acomodadas,
   assistem à televisão à espera do noticiário.
   Sobre a estante, num vai e vem incessante,
   milhares delas tentam se organizar
   sobre uma folha de papel em branco.
   Buscam acasalar-se em sílabas
   na tentativa insana de formar palavras,
   verbos, frases, significados.
   Algumas, mais românticas,
   preferem construir versos;
   letras líricas e emocionadas,
   acreditam que possam unidas
   edificar um belo poema,
   uma mensagem de amor.
   Letras ousadas!
   E enquanto isto em minha mente,
   notas insistentes ecoam,
   seres alados e impertinentes
   na pretensão de se unirem aos versos 
   em harmonias explícitas, sensuais, viscerais,
   melodias sedentas que possam 
   deixar marcas bem fundas
   dentro de cada um de nós.
   Só falta então abrir a janela
   e deixar a danada da inspiração entrar
   e dar sentido a toda esta orgia.
   E acreditem!
   Não há nada que eu possa fazer a respeito:
   sou só uma testemunha ocular.

Nenhum comentário:

Postar um comentário