quinta-feira, 15 de setembro de 2011

POESIA EM RECESSO (LUZ E SOMBRAS)

   NALDOVELHO

   Na porta da frente: rastros,
   vestígios de passos, sinais evidentes,
   tentativas frustradas, tranqüilidade aparente,
   um ramalhete de flores depositado num canto
   e um aviso ostensivo: favor não perturbar!

   Na porta ao lado: silêncio,
   fechadura emperrada, inquietude, loucura,
   diferentes escolhas, algumas erradas.
   Um vaso de plantas, sob o vaso uma chave
   e um aviso pendurado: saí, mas volto já.

   Na frente da casa: muro de pedras tão cheias de limo,
   na caixa do correio, correspondência lacrada,
   faz tempo entregue, simplesmente esquecida.

   Na casa das coisas: lembranças doídas...
   Faz tempo eu evito mexer nos guardados,
   faz tempo eu não deixo brotarem os versos.

   Poesia em recesso, calmaria, sossego, assim eu proponho
   e um aviso enorme pendurada no portão:
   cão feroz te aguarda, melhor não ousar.

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