sexta-feira, 9 de setembro de 2011

PALAVRA ESPINHOSA DE UMBIGO


   NALDOVELHO

   Palavra espinhosa de umbigo
   é esta tal de nostalgia,
   vive de contaminar meus versos,
   encharca de orvalho poemas inteiros
   e ainda traz consigo cheiro de terra molhada
   em tardes chuvosas de inverno,
   dedilhar no piano um bolero,
   veneno de lua cheia, canto ardido de sereia,
   noites inteiras passadas em claro,
   vontade de fumar um cigarro,
   ou de tomar um bom gole de aguardente,
   e ainda tem gente que diz que não teme
   palavras que arranham e choram.

   Palavra mais estranha
   é esta tal de nostalgia,
   vive de ressuscitar o passado,
   mantém nos guardados
   lembranças, estragos,
   retratos amarelados, cartas, bilhetes,
   lágrimas indecisas que dos olhos não caem,
   um certo perfume que ainda mora em meus dedos...
   Já fiz tudo pra me livrar,
   mas ele teima em assombrar.
   E ainda tem gente que diz que não teme
   cicatriz que volta e meia incomoda
   e na mudança de tempo costuma sangrar.

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