domingo, 11 de setembro de 2011

O DEDÃO DO PÉ DIREITO



NALDOVELHO

Preciosas lembranças, pés descalços, roupa suja, corpo suado, ainda menino, joelho esquerdo ralado, unha do dedão do pé direito, esmigalhada... Errei a bola, acertei a pedra. Tempos sagrados!

No campinho ao lado da igreja, todas as tardes na mesma hora, uma boa pelada e o padre, invariavelmente, torcia pelo time errado. Acho até que veio daí a minha indisposição com o Clero, até hoje não nos entendemos!

De vez em quando saía uma briga: “ninguém se mete!” Dizia alguém do meu lado. E lá vinha o padre segurando a batina separar os meninos. E aí, voavam catecismos pra todo o lado e tudo o mais virava uma festa.

Daqui a pouco mais uma partida e nessa eu infelizmente não jogava, contundido, o dedo doendo e um medo danado do Seu Luiz da farmácia. Já pensou se ele cisma de arrancar a unha?

Voltar pra casa, tipo herói de guerra; não joguei a última partida, mas a turma da rua tinha sido a campeã. Ao chegar em casa, minha mãe assustada: - Não acredito meu filho, arrebentou o dedo outra vez?

Ao tomar um banho, um drama danado, como doía a unha esmigalhada! E lá íamos nós pra farmácia, uma vontade louca de chorar, era quando o meu pai dizia: - homem não chora, aguenta o tranco garoto!

O que se passou, depois, foi uma verdadeira guerra: pro seu Luiz consertar meu dedo foi preciso que o Doda, um branquelo sarado que auxiliava no balcão, me imobilizasse num canto e aí, um catiripapo no pé da orelha... Era o meu pai a marcar presença.

Passada a tortura, ia então pra esquina da rua lá de casa e nem um vestígio de lágrima.

- Homem não chora, meu pai dizia, e se chorar te dou uma porrada!

Meu pai sempre foi muito convincente, foi assim que ele me criou.

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