quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MANIAS (LUZ E SOMBRAS)

   NALDOVELHO

   Mania de janela escancarada,
   qualquer vento que chegue,
   até os vadios invadem,
   vasculham cômodos, espalham pelo chão
   coisas faz tempo guardadas,
   verdades que o poeta se ilude em esconder.

   Mania de cometer sacrilégios,
   de andar pela beira do abismo,
   de cutucar feridas antigas,
   de viver fuçando escombros,
   de não permitir que a loucura se esconda...
   Sangue, suor, tabaco e aguardente.

   Mania de madrugadas insones,
   de perambular por ruas desertas,
   por travessas, por becos, esquinas,
   de tecer teias lúdicas,
   e de colher a palavra que existe
   nos recantos mais sombrios da cidade.

   Mania de querer ser poeta,
   de dissolver espinhos, farpas e cacos,
   de fazer do veneno um remédio,
   de macerar energias que imploram
   por significados que transcendam o poema,
   que façam sentido hoje, amanhã e depois.

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