domingo, 4 de setembro de 2011

MANIA DE COLECIONADOR


   NALDOVELHO

   Coleciono pétalas diversas, espinhos,
   pedaços de quartzo, alguns lapidados,
   muitas corujas na estante da sala,
   livros queridos, leituras freqüentes,
   inquietudes da alma, algumas urgentes,
   pedras redondinhas de beira de rio,
   fios coloridos todos em desalinho,
   folhas secas de outono cheirando a abandono,
   romances, partidas, saudades latentes,
   tocos de vela, aflições de uma vida,
   algumas restam acesas dentro do peito,
   aquecem o inverno dos meus sentimentos,
   algumas intocadas, precauções que eu tenho,
   sei lá do futuro e dos rumos que eu tomo.

   Coleciono gravatas penduradas no armário,
   documentos, histórias, tudo catalogado,
   retratos antigos, imagens, passado,
   telas, meus quadros, estranhos, profusos,
   uma infinidade de versos, rabiscos confusos,
   alguns aproveito, cometo poemas,
   se mexo e remexo resultam em prosa,
   palavras que eu tenho, sagradas memórias.

   Coleciono mulheres, amores tão densos,
   mas teve aquela que colheu e guardou,
   sementes de trigo e águas de um rio
   e na troca de odores, suores, salivas,
   plantou sutilezas, colheu meu amor.

   Coleciono abraços, sorrisos, amigos,
   alguns bem distantes permanecem queridos,
   alguns ao meu lado servem de abrigo.

   Coleciono invernos, primaveras e outonos,
   notícias dos longes, esperas, certezas,
   que sempre ecoam a cada passo sofrido,
   em cantigas, toadas, melodias profanas,
   discos antigos, jazz e blues,
   também tem boleros, a maioria cubanos,
   tem Águas de Março, Elis e Jobim,
   tem Nana Caymmi, tem Milton e tem Chico,
   ultimamente alguns choros doídos, confesso!

   Sonoridades, palavras, imagens, objetos, 
   ainda bem que eu os tenho bem junto a mim.

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