sexta-feira, 16 de setembro de 2011

É MUITO TARDE! (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Percebo a chama que alimenta o drama,
   refaço os laços, os traços, os passos,
   remexo com cuidado em objetos, guardados,
   pedaços de quartzo que ainda brilham,
   pequenos adornos, jóias, contornos,
   alguns poucos retratos amarelados pelo tempo, 
   muitos segredos, vivências, enredos,
   alguns mal resolvidos ou inacabados,
   lágrimas reprimidas choradas pra dentro,
   dores não paridas, cristalizadas que estão.  

   Percebo a distância que assola meus dias,
   percebo o silêncio no qual eu me abrigo,
   releio algumas cartas, romances antigos,
   descubro que a saudade, ainda hoje, mora comigo,
   divide a minha cama e às vezes reclama,
   necessita mais espaço, pretende crescer.

   Descubro alguns poemas no fundo de uma caixa,
   lirismo engavetado, faz tempo não ouso
   permitir novos carinhos, escolhas, caminhos,
   deixar que coração sufoque a razão.

   Percebo a janela mantida entreaberta,
   e um vento forasteiro a sacudir as cortinas,
   perfume de alfazema a invadir o meu quarto,
   e a lua por vingança não responde ao meu chamado,
   diz que é muito tarde, precisa amanhecer.

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