domingo, 11 de setembro de 2011

CRÔNICA DE UMA CIDADE SITIADA


NALDOVELHO

Ao amanhecer percebo: rastros, marcas estranhas, galhos retorcidos, flores pisadas, evidências de pilhagens, sinais de tempestade, manchas de sangue, sombras... Pelas ruas o meu povo, assustado, desconfiado, o medo estampado nos olhos, faces enrugadas, apreensão.

Dobrar a esquina, já não é tão seguro. O sinal está fechado, cuidado! Alguém caminha em sua direção. A sensação de estarem sendo vigiados, sufocados, e de que o escudo que carregam é frágil, não resiste à agressão.

Na subida do viaduto um corpo estendido no chão! Amanhã esta imagem estará nos jornais. Um ônibus acaba de ser incendiado. Rebelião no presídio, muitos mortos, aflição! Um atentado, crianças reféns numa escola, um regate impensado, mortes, desolação!

Israel, Líbano, Chechênia, África, Iraque, Afeganistão. Quantos por lá ainda morrerão? Quantos por aqui cairão? 

Retorno depressa ao meu abrigo, as chaves do cadeado, do portão, da porta... Entro rapidamente, protegido, atrás das grades. Olho pela janela e percebo vultos, rastros, marcas estranhas, galhos retorcidos, sangue pra todo o lado!

Crônica de uma cidade sitiada, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Tel Aviv, Beirute, quase todo o continente africano, Iraque um país violentado, Afeganistão... 

Ligo a televisão e assisto o noticiário: chacina na periferia da cidade, doze mortos, entre eles, quatro adolescentes; um bombardeio atinge um prédio cheio de refugiados, vinte e sete crianças mortas.

Não há nada de novo nas horas, tudo é hoje como era antes. Eles não sabem o que fazem! Perdoa-os Pai!


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