sexta-feira, 16 de setembro de 2011

TRAGICOMÉDIA (LÂMINA AFIADA)


   NALDOVELHO

   Estreitas passagens impedem a viagem,
   retardam o regresso do pecador, confesso,
   que envolto em chamas busca e clama
   pela misericórdia do perdão.
   Promete reformas, se empenha e ora
   e diz que agora vai ser diferente.

   Enroscada num canto a serpente observa,
   sibila satisfeita, sorri de prazer.
   É muito o veneno que ainda existe em seu ser.

   A platéia entretida assiste ao espetáculo,
   querubins pervertidos, excitados pedem bis.
   Estranho personagem que em insólita viagem,
   rasteja pelo palco, comete bobagens,
   embriaga-se do veneno, interpreta um selvagem
   e iludido pelo aplauso se diz um aprendiz.

   Na coxia, excitado, um arcanjo safado ri do infeliz.

   São muitas as teias, são muitos os dramas,
   coadjuvantes reclamam melhor papel nessa trama
   e revoltosos proclamam o fim do espetáculo.
   A platéia silencia, não entende o enredo,
   não percebe que a morte é a grande atriz.

   E o nosso personagem sai às pressas do teatro,
   vai a busca de um outro palco onde possa ser feliz.

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