domingo, 4 de setembro de 2011

A FACE CONTRAÍDA DE DEUS


   NALDOVELHO

   Na estante, adormecido, o livro sagrado.
   Em cima da mesa um outro aberto:
   a Divina Comédia, o Inferno de Dante!
   Palavras assustadoras de sombras e aflições,
   demônios que ameaçam criar vida,
   materializar de vez o mal que existe em nós.

   Um terço abandonado na gaveta,
   a oração, faz tempo, esquecida...
   Anjos tristonhos observam o cenário:
   estilhaços, escombros, vidas perdidas,
   horas tão lentas, doloridas, grudentas
   e um estranho deus que se alimenta de feridas.

   Na casa semidestruída um cheiro ardido:
   sangue, pólvora, poeira e medo!
   Lá fora cães furiosos a espera:
   há sempre alguém pronto para ser devorado.
   Lágrimas ácidas, corrosivas...
   O fanatismo de alguns, a dor de muitos.

   Na estante o Novo Testamento.
   Na parede, o Cristo crucificado, faz tempo...
   E a face contraída de Deus
   a assombrar meus pensamentos, ordena:
   tirem Meu Filho da cruz! 

Um comentário:

  1. Belíssimo poema!
    ...Mas ninguém levanta um dedo para tirar Cristo do suplício!
    A Terra vai-se cobrindo de outras cruzes.
    Mísseis ameaçam derruir inocentes. Foi declarada uma guerra na sexta-feira santa.
    A bomba atómica espera...
    Felizmente permitem que as crianças vão tomar a única refeição quente nas escolas, em férias.
    Um fraterno abraço, desejando mais Luz nesta Páscoa,
    Maria

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