sexta-feira, 5 de agosto de 2011

VERSOS CONFUSOS

   NALDOVELHO

   O poema que eu não escrevi,
   a ferida que volta e meia incomoda,
   coisa feita pra doer, mal resolvida,
   a tapeçaria inacabada no quarto,
   a última dose de conhaque,
   o café bem quente e doce,
   o cigarro aceso entre os dedos,
   cacos de vidro espalhados
   por todos os cantos da casa.

   O trem que eu não tomei,
   a mulher que eu muito amei
   e que como água, escapuliu-me
   entre os dedos,
   o navio que partiu pra bem longe,
   a saudade doída e confessa
   e a lágrima no olho esquerdo
   que ameaça chorar, mas tem medo.

   Um sorriso a disfarçar meus segredos,
   inquietude entranhada na alma,
   loucura que eu trago reprimida
   e a artéria continua entupida,
   congestionamento na via expressa;
   o Pai Nosso numa prece
   e o sinal permanece fechado.

   O livro de contos?
   Faz tempo não pego!
   Hoje em dia só escrevo poemas.
   Alguns deles, nem são poemas,
   parecem mais amontoados, confusos,
   de versos estranhos, profusos,
   que por mais que eu tente impedir,
   rebelados que são, teimam em surgir.

   E a ampliação da casa continua num esboço.


   VERSES CONFUSED
   NALDOVELHO

   The poem that I didn't write,
   the wound that back and half-bother,
   thing done to hurt, badly resolved,
   the unfinished tapestry in the room,
   the last dose of cognac,
   coffee piping hot and sweet,
   the lit cigarette between fingers,
   glass shards scattered,
   by all corners of the House.

   The train that I didn't took,
   the woman I really loved
   and that as water, it me scaped
   between the fingers,
   the ship that sailed to far away,
   the hurt longing and confesses
   and tear in left eye, 
   which threatens to cry, but is afraid.

   A smile to disguise my secrets,
   anxiety ingrained in the soul,
   crazy that I bring repressed,
   and the artery continues clogged,
   congestion on the Expressway;
   the Lord's prayer on a prayer
   and the signal remains closed.

   The book of short stories?
   Makes time not caught!
   Nowadays only write poems.
   Some of them, nor are poems,
   seem more piled up, confused,
   strange verses, profuse,
   that as much as I try to prevent,
   rebels who are, seems hell-bent on arise.

   And the expansion of the House is still a stub.

   Translation for English by Marlene Nass


   VERSETS CONFUS
   NALDOVELHO

   Le poème que je n'écris,
   la plaie que dos et moitié-ennuyeux,
   chose faite, à tort, mal résolue,
   la tapisserie inachevée dans la salle,
   la dernière dose de cognac,
   tuyauterie de café chaud et doux,
   la cigarette allumée entre les doigts,
   tessons de verre dispersés,
   par tous les coins de la maison.

   Le train que j'ai n'a pas pris,
   la femme que j'ai beaucoup aimé
   et que l'eau, il me décomposées
   entre les doigts,
   le navire navigue au loin,
   le désir blessé et confesse
   et la larme à l'oeil gauche,
   qui menace de pleurer, mais a peur.

   Un sourire pour masquer mes secrets,
   anxiété, enracinée dans l'âme,
   Crazy que j'apporte réprimée,
   l'artère continue bouchés,
   congestion sur l'autoroute ;
   le notre père dans une prière
   et le signal reste fermé.

   Le livre d'histoires courtes ?
   Rend ne pas pris de temps !
   De nos jours seulement écrire des poèmes.
   Certains d'entre eux, ni les poèmes,
   semblent plus empilées jusqu'à, confus,
   versets étranges, abondantes,
   que j'essaie d'éviter, autant que
   les rebelles qui sont, semble décidé à se poser.

   Et l'expansion de la maison est encore un stub.

   Traduction de Français par Marlene Nass


6 comentários:

  1. Demais!!! "... inquietude entranhada na alma..." Naldo em todos os seus poemas me encontro!!! Algo mais que inquietude entranhada na alma... que nos transporta em outras paragens na memória!!!! Fernanda Belotti

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  2. Inquietudes...labirintos do corpo e da alma humana, que ficam mal resolvidos e teimam em nos visitar sempre! Maravilhoso, amigo Naldo! Abraços

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  3. "o navio que partiu pra bem longe,
    a saudade doída e confessa
    e a lágrima no olho esquerdo
    que ameaça chorar, mas tem medo...."

    que mergulho corajoso no inconsciente meu caro poeta.. seu verbo é livre e despojado das amarras das rimas, das grades da métrica e dos conceitos acadêmicos que nada definem a forma de pensar livre e poeticamente. saudações!

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  4. Meu querido amigo...se teus versos te parecem confusos, talvez seja porque estejam na sombra do bardo, que os desvenda apenas para deleite dos leitores....abreijos, guida

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  5. Muito eu esse poema,ele me leu Poeta!

    Parabéns sempre!

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  6. A musa inspiradora do poeta, também se agita confusa e faz desabrochar versos tão fortes e lindos. Incoerência! Não. Inspiração.

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