sábado, 27 de agosto de 2011

CAOS


   NALDOVELHO

   Sobre meu corpo chafurdam
   prostitutas, palhaços, ciganos,
   anarquistas, místicos e mendigos,
   todos em completa orgia.

   Sacerdotes tentam por ordem na casa
   e afirmam convictos que:
   ou a justiça dos homens
   ou a divina, quem sabe as duas?
   não tardam a me alcançar.

   Sorte que ainda existam monstros,
   cães danados a proteger meus templos,
   de todos aqueles, profanos ou não,
   que em nome da lei tentam me calar.

   Ao anoitecer um ser estranho
   se asilou em minha cama.
   Era uma mulher sofrida,
   dessas marcadas pela vida...
   Alimentou-se do meu sangue,
   matou sua sede, agradeceu e partiu.

   Ao amanhecer escutei barulho de crianças,
   corriam pelos corredores
   e desarrumavam toda a casa.
   Tinham um semblante tranqüilo
   e eram imunes ao pecado,
   se diziam donas de um tempo
   e seguras em meu mundo.

   Eram despojadas de orgulho,
   pois se reconheciam iguais.
   Seus olhos brilhavam de felicidade,
   pois eram as herdeiras da minha casa,
   futuras donas daquele lugar.

2 comentários:

  1. Admiro, respeito todos os poetas, mas confesso com sinceridade que você é o meu poeta preferido. Linguagem dos homens, linguagens de Naldo Velho. Parabéns!
    Neyde

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  2. Quanto mais te leio, mais me encanto.
    Há muitos poetas: bons, medianos, ruins - não gosto de tudo que leio, confesso que até entre meus escritos tem versos que não gosto - levo poesia muito a sério e ultimamente (vc bem sabe disso, meu amigo e mestre querido) estou com um senso crítico tão acirrado e apurado que nem eu escapo dele! rsrsrs...
    Ainda bem que existem Wandas Monteiros e Naldos Velhos que estudam, bordam, tecem, sentem e ressentem as palavras com seriedade, competência, profissionalismo e sentimentos. Obrigada por existir na minha vida e por compartilhar um pouco de sua alma.
    Grande Naldo Velho!!!

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