quinta-feira, 11 de agosto de 2011

DIARIAMENTE


    NALDOVELHO

    Os poemas que eu escrevo diariamente
    constroem um livro de incertezas.
    Páginas elaboradas sem pressa,
    salpicadas de acidez e delicadeza,
    de lirismo exacerbado e insônia,
    de nostálgica e disfarçada tristeza,
    de madrugadas irresponsáveis e perdas,
    de luz da lua sedutora e exibida,
    que vez por outra se mostra nublada,
    mas ainda assim: a amante ideal.

    São versos lambuzados de orvalho
    sobre coisas preciosas, guardados,
    retratos, cartas, recortes,
    escombros do meu desalento,
    algumas telas, mantenho expostas,
    monocromáticas imagens de um tempo
    árido, solitário e perverso;
    muitos discos de vinil e Cd´s,
    uma quantidade enorme de livros,
    muitas pedras, toda espécie de quartzos,
    relógios de pulso, quebrados,
    tudo isso muito bem catalogado,
    mania de colecionador!

    E a cada poema que eu ouso,
    liberto mais um fantasma,
    exorcizo mais um demônio,
    curo feridas antigas,
    desconstruo miragens, romances,
    compreendo os meus desenganos,
    caminhos, atalhos e tombos,
    e derramo lágrimas vivas,
    palavras, significados, verdades,
    que dissolvem nódulos pelo corpo,
    purificam a mente e a carne,
    e renasço mais uma vez.

9 comentários:

  1. Amigo Naldo Velho, vc traçou com brilhantismo o cotidiano do poeta. Um retrato, ou melhor, um raio X da sua e de mtas almas poéticas. São memórias que "purificam a mente e a carne" de todos que compartilham com os seus versos maravilhosos. Bravos!!!

    ResponderExcluir
  2. DAILY



    NALDOVELHO


    The poems what I write daily
    they build a book of uncertainties.
    Pages prepared without haste,
    sprinkled of acidity and delicacy,
    of exacerbated lyricism and insomnia,
    of nostalgic and disguised sadness,
    of irresponsible dawns and losses,
    of light of the seductive and pretentious moon,
    what sometimes appears cloudy,
    but even so: the ideal lover.


    They are smeared verses of dew
    on precious things, guarded,
    portraits, letters, cutting out,
    debris of my discouragement,
    some fabrics, I maintain exposed,
    monochromatic images of a time
    arid, lonely and perverse;
    many discs of vinyl and Cd's,
    an enormous quantity of books,
    much stones, any sort of quartzes,
    watches, small change,
    completely that very well catalogued,
    collector's habits!


    And to each poem that I dare,
    freed one more ghost,
    I exorcize one more devil,
    I cure ancient wounds,
    destroying mirages, novels,
    I understand my disappointments,
    ways, short cuts and tumbles,
    and I spill lively tears,
    words, meanings, truths,
    what dissolve nodules for the body,
    they purify the mind and the meat,
    and I am reborn again.


    Translated into English for Marlene Nass.

    ResponderExcluir
  3. Boa tarde com paz e amor... Permita-me!

    Aproveitando um cochilo do poeta passei por aqui com medo que ele acordasse a cuidar dos seus guardados, com sede de aprendiz deixei meus olhos beber a beleza da sua poesia e agradecido pela doação parto como um colibri que só retira o néctar da flor, parabéns caro amigo é belo o seu trabalho, seja feliz!

    ResponderExcluir
  4. QUOTIDIEN




    NALDOVELHO



    Les poèmes que j'écris tous les jours
    Ils construisent un livre d'incertitudes.
    Pages préparés sans hâte,
    saupoudrée d'acidité et de délicatesse,
    du lyrisme exacerbé et d'insomnie,
    de tristesse nostalgique et déguisée,
    des aubes irresponsables et des pertes,
    de la lumière de la Lune séduisante et prétentieuse,
    ce qui semble parfois nuageux,
    mais encore : l'amant idéal.



    Elles sont tachées de versets de rosée
    sur des choses précieuses, gardés,
    portraits, lettres, découper,
    débris de mon découragement,
    certains tissus, je maintiens exposés,
    images monochromes d'une époque
    aride, solitaire et pervers ;
    de nombreux disques de vinyle et Cd,
    une énorme quantité de livres,
    une grande partie des pierres, toute sorte de quartzes,
    montres, petit changement,
    complètement que très bien cataloguée,
    habitudes de perception !



    Et à chaque poème que j'ose,
    libéré un fantôme plus,
    J'exorciser un démon plus,
    Je guérir d'anciennes blessures,
    détruire les mirages, romans,
    Je comprends mes déceptions,
    façons, les raccourcis et les atteindre,
    et je les larmes animées,
    mots, les significations, les vérités,
    ce que dissoudre les nodules pour le corps,
    ils purifient l'esprit et la viande,
    et je suis renaît à nouveau.



    Traduit en Français pour Marlene Nass.

    ResponderExcluir
  5. Muito bom mesmo. Você é poeta do "eu", não do "ego", você é poetra da essencia, não da perfumaria. Parabéns!

    ocf

    ResponderExcluir
  6. E, na ousadia, a mais bela melodia soa do teu alaúde, caríssimo bardo!

    ResponderExcluir
  7. O poeta transcende o comum e o efêmero, ao tracejar em versos a gama de emoções que o inquietam e alucinam, assim como generosamente você o faz, com muita propriedade. Abreijos, guida

    ResponderExcluir
  8. Poema forte, quase... contundente... Só não desconstrua todos os romances... todas as miragens... deixe que permaneçam algumas destas imagens... mesmo que ora as saibas irreais, se foram belas serão suas "auroras boreais"...

    ResponderExcluir
  9. Querido Poeta e amigo, dia a dia vais abrindo caminhos, por entre tantas flores, alguns espinhos, recordações e descobertas...
    à tua volta, dançam miríades de borboletas.
    De quando em vez, sentas-te numa pedra, para escreveres mais um poema e os passarinhos, viajantes do céu, ententem e cantam em coro contigo, meu velho e bom amigo.
    É todo este panorama que sinto nas tuas belas palavras. De olhos abertos abarco esta linda paisagem. Bem-hajas.
    Um imenso abraço e brisas deste mar nosso,
    Maria

    ResponderExcluir