NALDOVELHO
Percebo um coração descompassado
que faz pouco da vida que lhe resta,
velha senhora que já não se apraz
com o dia que está prestes a nascer,
mas ainda assim continua a bordar
pequenas flores cercadas de espinhos;
tecido branco, puro linho,
e um monograma a revelar seu nome.
Percebo linhas, dobras, rugas,
asperezas de pele, cicatrizes;
percebo a flacidez, a palidez e a ferrugem,
o mal humor e as esquisitices,
a vontade de ficar em silêncio,
a necessidade de dormir até tarde,
a tendência em finalizar o enredo
e sair de cena sem fazer alarde.
Percebo olhos de incerteza
para o que existe atrás da porta,
e a dificuldade de desconstruir o passado.
Se bem que isto já não importa,
posto que o tempo anda muito apressado
e os dias cada vez mais rabugentos
com a obrigação de dizer sempre a verdade,
pois já não há motivos para esconder
que da mesinha de cabeceira
São Lázaro observa e aguarda
a hora certa de intervir.
Só tenho uma palavra "GENIAL".
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