quarta-feira, 24 de agosto de 2011

SOBRE A VELHA SENHORA


   NALDOVELHO

   Percebo um coração descompassado
   que faz pouco da vida que lhe resta,
   velha senhora que já não se apraz
   com o dia que está prestes a nascer, 
   mas ainda assim continua a bordar
   pequenas flores cercadas de espinhos;
   tecido branco, puro linho,
   e um monograma a revelar seu nome.

   Percebo linhas, dobras, rugas,
   asperezas de pele, cicatrizes;
   percebo a flacidez, a palidez e a ferrugem,
   o mal humor e as esquisitices,
   a vontade de ficar em silêncio,
   a necessidade de dormir até tarde,
   a tendência em finalizar o enredo
   e sair de cena sem fazer alarde.

   Percebo olhos de incerteza
   para o que existe atrás da porta,
   e a dificuldade de desconstruir o passado.
   Se bem que isto já não importa,
   posto que o tempo anda muito apressado
   e os dias cada vez mais rabugentos
   com a obrigação de dizer sempre a verdade,
   pois já não há motivos para esconder
   que da mesinha de cabeceira
   São Lázaro observa e aguarda
   a hora certa de intervir.

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