NALDOVELHO
Repleto, complexo,
despudoradamente confesso,
de certa forma arredio
e invariavelmente fora dos trilhos,
poema de curto pavio
que incomoda as entranhas,
que arranha, assanha
e brota de forma estranha,
disposto a envolver-me em teias,
por conta de quais dores
você se atreve a jorrar?
Por conta de quais caminhos
você resolveu me assombrar?
Melhor seria apelidá-lo de esboço,
tipo inquieto e indisposto
e desordenadamente perverso
a revelar-me um universo
de cheiros, texturas, segredos,
lembranças lascivas, ardidas,
de seda pura e crisântemos,
de vinho tinto e rascante,
de música nostálgica e envolvente,
de vento frio de outono,
de cama vazia e abandono
e de noites molhadas de insônia.
Trancaram a porta a chave
e a esconderam em algum lugar.
Por conta de quais desentranhamentos
você insiste em chorar?
Lágrimas cálidas, salgadas, poemas,
assim, tão inconvenientes,
destrambelhados e urgentes
a mostrar que ainda hoje
o veneno circula impunemente
por todos os cantos da casa,
mantendo a chama acesa
e um desejo incontrolável de te amar.
Poema que toca o fundo da alma.
ResponderExcluirSerá inconveniente para quem o viva.
Em essência, é uma beleza.
"Poema de curto pavio, que incomoda as entranhas, que arranha, assanha e brota de forma estranha". Maravilhoso este inconveniente poema, que circula pelos cantos e nos encanta. Gostoso de ler, meu amigo. Adorei, como sempre. Abraços Naldo Velho
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