domingo, 21 de agosto de 2011

POEMA INCONVENIENTE


   NALDOVELHO

   Repleto, complexo,
   despudoradamente confesso,
   de certa forma arredio
   e invariavelmente fora dos trilhos,
   poema de curto pavio
   que incomoda as entranhas,
   que arranha, assanha
   e brota de forma estranha,
   disposto a envolver-me em teias,
   por conta de quais dores
   você se atreve a jorrar?
   Por conta de quais caminhos
   você resolveu me assombrar?
   Melhor seria apelidá-lo de esboço,
   tipo inquieto e indisposto
   e desordenadamente perverso
   a revelar-me um universo
   de cheiros, texturas, segredos,
   lembranças lascivas, ardidas,
   de seda pura e crisântemos,
   de vinho tinto e rascante,
   de música nostálgica e envolvente,
   de vento frio de outono,
   de cama vazia e abandono
   e de noites molhadas de insônia.
   Trancaram a porta a chave
   e a esconderam em algum lugar.
   Por conta de quais desentranhamentos
   você insiste em chorar?
   Lágrimas cálidas, salgadas, poemas,
   assim, tão inconvenientes,
   destrambelhados e urgentes
   a mostrar que ainda hoje
   o veneno circula impunemente
   por todos os cantos da casa,
   mantendo a chama acesa
   e um desejo incontrolável de te amar.

2 comentários:

  1. Poema que toca o fundo da alma.
    Será inconveniente para quem o viva.
    Em essência, é uma beleza.

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  2. "Poema de curto pavio, que incomoda as entranhas, que arranha, assanha e brota de forma estranha". Maravilhoso este inconveniente poema, que circula pelos cantos e nos encanta. Gostoso de ler, meu amigo. Adorei, como sempre. Abraços Naldo Velho

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