sexta-feira, 26 de agosto de 2011

VERSOS ENLOUQUECIDOS


   NALDOVELHO

   Não quero o verbo amarelado
   em versos de mel encharcados.
   Prefiro os de vinho tinto,
   rascantes e embriagados,
   por madrugadas insones,
   ruas de uma cidade deserta,
   ou então os sujos de sangue,
   ardidos e amarrotados.

   Não quero o verbo perfeito 
   em versos bem lapidados,
   prefiro os cheios de arestas
   que incomodem entranhas,
   inquietude bendita, já faz tantos anos,
   farpas, cacos de vidro,
   espinhos espetados, doídos,
   que eu macero e transformo em versos.

   Não quero flores perfumes,
   pássaros enamorados, queixumes.
   Prefiro versos enlouquecidos,
   Bill Evans num piano perverso
   e garrafa inteira de absinto,
   pois das suas garras, ainda me lembro,
   deixaram cicatrizes medalhas,
   volta e meia costumam sangrar.

8 comentários:

  1. O imperfeito tem graça, asa e faz você voar.
    Lindo, querido poeta!Parabéns!

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  2. Perfeito sempre!

    Relembrando Fernando Pessoa

    "Quando quis tirar a máscara...Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho...Já tinha envelhecido"
    Bjs

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  3. Também prefiro a poesia arrancada do sentimento mais puro!

    Rendo-te letras!Sempre sensível!

    Beijo

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  4. Bela Poesia caro amigo. Muito bom. Continue assim nos brindando com suas belas poesias. Abraços fraternos do amigo Paulo Resende.

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  5. Com sempre magnífico, porém há algo especial neste poema.
    Talvez por não acompanhá-lo sempre, por falta de tempo, senti em seu texto um tom apimentado e delicioso de ler e degustar.
    Bjoks

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  6. Gosto tanto que ousei compartilhar no meu face.
    Odir

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  7. Seus versos enlouquecidos são belos, ainda que "rascantes e embriagados,"e"cheios de arestas que incomodam entranhas", deixando cicatrizes. Muito grata por nos presentear com tão belo belo poema.Carinhoso abraço, poeta Naldo Velho.

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