sexta-feira, 26 de agosto de 2011

TIRA O DEDO DA FERIDA


   NALDOVELHO

   Tira o dedo da ferida,
   tira as lascas de unha
   cravadas em minhas costas,
   pois toda a vez que você chama,
   doem e inflamam.

   Tira os espinhos da roseira,
   que vieram com a flor primeira,
   eles arranham e sangram!

   Tira o esqueleto do armário,
   o amuleto do pescoço
   e aquele retrato amarelado
   da cabeceira da cama.

   Tira as carpideiras da sala,
   de chorar já tão cansadas,
   por conta de tantas partidas.
   Aproveita, apaga o meu nome
   da pedra fria e empoeirada
   por tanta espera desiludida.

   Tira o vestido preto
   e o solidéu circunspeto
   que você costuma usar.
   Tira?

   Tira as farpas que por tanto tempo,
   sem nenhum constrangimento,
   você lançou sobre mim.

   Tira o trinco da janela,
   chama o sol pra bem perto,
   arruma de vez sua cama
   e sorria que a vida se assanha,
   você nem vai acreditar!

4 comentários:

  1. Maravilhoso, magistral, tocou fundo em mim, meu amigo, poeta nas mais profundas entranhas, bjs

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  2. Enfim liberte-se de ti e livre-se de mim,e desate os nó que nos uniu...

    Um lindo poema que clama pela libertação e pela pureza do espirito maculado por sentimentos impuros.Como sempre adorei!

    Grata pela partilha !Parabéns sempre meu Poeta!

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  3. Uau...beleza pura...fecho de ouro! Bom fim de noite...abreijos, guida

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  4. "Tira as farpas que por tanto tempo,sem nenhum constrangimento, você lançou sobre mim"...colocando mesmo o dedo na ferida, hein amigo? Maravilhoso, como sempre, meu amigo Naldo Velho! A-d-o-r-e-i de montão. Abraço carinhoso

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