quinta-feira, 25 de agosto de 2011

VERSOS INSANOS

   NALDOVELHO
   
   Nuvens compactas, sombrias, se apossam dos dias.
   Tardes chuvosas, tão frias, se mostram vazias.
   Ruas, calçadas e praças molhadas
   aprisionam a criança, atiçam lembranças.
   Folhas caídas, outono, abandono,
   mostram-se nostálgicas, revelam enganos.

   Notícias dão conta que a dor que se planta
   traz frutos ardidos, azedumes, espantos.
   O beijo negado, secura nos lábios,
   o carinho abortado; padece a poesia.

   São teias, são dramas, são tramas vazias.
   O cheiro da terra molhada me chama pra cama,
   pro colo da dama, que chama meu nome, quer mais poesia.
   Que drama, não chore, que drama!

   O som do piano, solitário e profano,
   a orquestra parada assiste ao seu solo;
   um violino abusado desfaz os meus planos,
   o rufar dos tambores me tira o sono.
   Versos sem nexo, confusos, insanos.

   Quem sabe um navio me leve pra longe?
   Quem sabe um desvio me trague de volta?
   Quem sabe a poesia revele meus sonhos?
   Quem sabe meus sonhos tragam o amanhecer?

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