domingo, 21 de agosto de 2011

PERMANECE O DRAMA


   NALDOVELHO

   Fios retorcidos embaralham a trama,
   bordados sem sentido tomam conta do tecido,
   palavras embriagadas tropeçam nos significados.
   Permanece o drama e ninguém reclama.

   O sacerdote enlouquecido num sermão equivocado
   diz que a poesia que hoje chora é pecadora contumaz.

   Uma guitarra ensandecida em harmonias infernais,
   sacrifica a melodia num estranho ritual.

   Carpideiras se divertem com a agonia do poema
   e o imperador lamenta a morte do tirano enforcado.

   A estrela da manhã apedrejada em plena praça
   e o povo comemora, ri com gosto da desgraça.

   E o diabo observa, lamentando o triste enredo,
   já não tem mais nem espaço pra tanta gente em degredo.

   E a história se repete, todos os dias, já faz tempo:
   a poesia crucificada implora ao Pai por seus rebentos.

   Fios retorcidos, bordados sem sentido, palavras embriagadas.
   Permanece o drama e ninguém reclama!


   RIMANE IL DRAMMA
   NALDOVELHO

   Fili intrecciati mescolano la trama,
   ricamati senza senso prendono posto del tessuto,
   parole ubriachi inciampano sui significati.

   Rimane il dramma e nessuno si lamenta.
   Il prete folle in un sermone equivocato
   dice che la poesia che oggi piange è una peccatrice consueta.

   Una chitarra impazzita in armonia infernali
   sacrifica la melodia in uno strano rituale.

   Prefiche si godevano l'agonia del poema
   e l'imperatore lamenta la morte del tiranno impiccato.

   La stella del mattino lapida in piena piazza
   e la gente festeggia, ride con gusto la disgrazia.

   E il diavolo osserva, lamentando la triste storia,
   non c'è più neanche spazio per tante persone in esilio.

   E la storia si ripete, ogni giorno, da tanto tempo:
   la poesia crocifissa supplica al Padre per la loro prole.

   Fili ritorti, ricami senza senso, parole ubriache.
   Rimane il dramma e nessuno si lamenta!

   Tradução para o italiano de  Fernanda Belotti


5 comentários:

  1. Maravilha de letras, Naldo!!!!!!!
    Belvedere

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  2. "E a história se repete, todos os dias, já faz tempo:
    a poesia crucificada implora ao Pai por seus rebentos."

    Pobre poesia, desde o nascituro incompreendida, os bardos sufocados, os gritos abafados.
    Que os rebentos arrebentem as amarras e as mordaças da incompreensão e soltem a voz, a verve, o texto poético, porque sei, por experiência, o quanto a poesia salva!
    Belo texto, amigo!

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  3. Você realmente brinca com as palavras, meu amigo. Sabe poetar de forma adorável. Lindo texto, adorei! Carinhoso abraço Naldo Velho

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  4. Eu também não reclamo, afinal, estou a apreciar os belos versos de um Bardo enternecido e ocupado em observar e desatar os nós da criação.
    Belo!
    Abraços, Naldo, caríssimo amigo!
    rosangelaSgoldoni

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