CAOS

   NALDOVELHO

   Trago páginas amontoadas,

   letras embaralhadas,

   algumas formam palavras,

   outras, ainda prematuras,

   não mais que grunhidos,

   espalhados sem sentido,

   atrapalhando a fluidez do verso

   que vive de construir milagres

   que nos tragam bons motivos

   e que possam por ordem no caos.

   Trago folhas amareladas,

   pensamentos, lamentos, histórias,

   lágrimas, insensatez, veemência,

   silêncio, saudade, solidão,

   versos que brotam impunemente,

   alguns deles bastardos e indecentes,

   outros românticos e inconvenientes,

   pois toda a vez que eu me apaixono

   dá uma gastura danada

   e eu me perco de mim mesmo.

   Trago em nem sei quantos poemas,

   sentimentos, significados concretos,

   a tola sabedoria dos loucos,

   a heresia de quem nasceu inquieto,

   a necessidade de alongar meus caminhos

   de forma a romper minhas fronteiras,

   ou alterar de vez meu destino,

   pois toda a vez que desafio o horizonte,

   navego perdido por um tempo,

   e me acabo em amarras num cais.