segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ÁFRICA

     Autora da Tela: Tutti Nunes
  
     NALDOVELHO

    Trilhas estranhas, histórias, tormentos,
    trevas, tropeços, portas trancadas,
    terras, fronteiras, cicatrizes expostas.
    É sina do homem crescer pela dor.

    Conflitos, abismos, batalhas, loucura,
    o cheiro de sangue, o medo, a tortura,
    na fúria da guerra a fome consome,
    em teu colo a criança, não chora, não come.

    Lágrimas não chovem, ressecadas as pétalas,
    caminhos incertos, agoniza o sonho.
    O rio minguou, o leite secou,
    olhos vidrados espelham a dor.

    Teias estranhas, nem sei o teu nome,
    só sei que és negro e padeces de fome.
    No berço do homem deserto de amor,
    morre a mingua o filho do Nosso Senhor.

4 comentários:

  1. Amigo, sempre que te leio fico sem palavras!!!
    Vc sempre me emociona com tua poesia!
    Palavras carregadas de sentimentos...
    DIA ILUMINADO PRA TI.
    Abraços... Milla Cavalcanti

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  2. Querido Poeta e Amigo,
    cresci no tempo da guerra colonial,absurda, nojenta, racista, com um ditador implacável que nos consumia ... todo o grão colhido, todo o menino nascido, era para alimentar a hedionda guerra.
    Cedo me dei conta deste imenso erro: em 1961, vi na TV os soldados incendiarem cubatas de palha... ainda tenho diante dos olhos essa imagem: eu julgava que as pessoas estavam escondidas dentro de suas casas.
    Assim foi o despertar.
    Minha mãe tinha morrido há meses, eu trajava de preto... meu pai comandava sei lá o quê nessa guerra: foi-se embora e nem se despediu.
    Cresci de casa em casa, como já te contei.
    E dentro de mim crescia o discernimento. No secundário, fui encontrando pessoas que não concordavam de modo nenhum com a guerra.
    Escrevi muito sobre ela, os meus escritos passavam para a Argel e, daí, para o mundo.
    Enfrentámos as garras da polícia política, muitas vezes corri por ruas e ruelas, nem se quais, qual gato vadio.
    O teu poema é o mais belo que li sobre África, neste país de guerreiros à força e de poetas.
    Agora, amigo, deixa que as minhas lágrimas aliviem a emoção que, mais uma vez, o teu poema me causou.
    Um enorme abraço,
    Maria

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  3. Lindo e emocionante! Grande mãe África! Muito, muito bom, poeta. Forte abraço.

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