segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A CHAVE DA CASA

    NALDOVELHO

    O relógio, os ponteiros, o tic-tac nervoso,
    a garrafa de conhaque pra baixo da metade.

    A campainha da porta adormecida, em silêncio,
    a janela da sala permanece entreaberta.

    O cinzeiro lotado, o cigarro entre os dedos,
    respiração afrontada, o poema, o segredo.

    O ambiente em penumbra, o mês é setembro,
    madrugada chuvosa, faz tempo, nem lembro,
    da última vez que ouvi o seu nome.

    O livro de poemas, finalmente terminei,
    poucos foram vendidos, a maioria eu guardei.

    Na estante da sala uma bagunça danada,
    livros, corujas, cristais e cds.

    Tem tempo não ando pelas ruas da cidade,
    enlouquecem-me o barulho e a fumaça dos carros.

    O açúcar anda alto, o nome certo é glicose,
    o telefone às vezes toca, normalmente é engano.

    No canto da sala um quadro inacabado,
    monocromático esforço, um árido esboço.

    O vaso de plantas, quando lembro, eu rego,
    samambaia valente resiste a tudo.

    O violão em silêncio, desafinadas as cordas,
    não componho mais toadas, estou mais pro bolero,
    as teclas do piano traduzem melhor os enganos.

    Notícias recentes dão conta que o sonho
    ficou a deriva num navio sem cais.

    Ainda guardo em meu quarto a aliança, o perfume,
    sua fotografia e as cartas de amor.

    A chave da casa, escondida, você sabe...
    Quando quiser, é só abrir a porta e entrar.

8 comentários:

  1. The Key Of The HOUSE

    NALDOVELHO



    The clock, the pointers, the nervous tic-tac,
    the bottle of brandy for bass of the half.


    The bell of the numb door, in silence,
    the window of the room half remains opened.


    The full ashtray, the cigarette between the fingers,
    offended breathing, the poem, the secret.


    The environment in twilight, the month is a September,
    rainy dawn, it does time, I do not even remember,
    of the last time that I heard his name.


    The book of poems, finally I finished,
    few ones were sold, the majority I guarded.


    In the bookcase of the room a damned mess,
    books, owls, crystals and cds.


    It has time I do not walk in the streets of the city,
    I am driven mad by the noise and the smoke of the cars.


    The sugar walks loudly, the certain name is a glucose,
    the telephone sometimes touches, normally it is a mistake.


    In the corner of the room an unfinished picture,
    monochromatic effort, an arid sketch.


    The pot of plants, when I remember, I water,
    brave fern resists everything.


    The guitar in silence, when the ropes were put out of tune,
    I do not compose when they more sounded, am more for bolero,
    the keys of the piano translate better the mistakes.


    Recent news notices that the dream
    it was adrift in a ship without quay.


    I still guard in my room the alliance, the perfume,
    his photography and the letters of love.


    The key of the house, hidden, you know...
    When he wants, it is only to open the door and to enter.

    Translation into English by Marlene Nass.

    ResponderExcluir
  2. LA CLÉ DE LA MAISON

    NALDOVELHO



    L'horloge, les mains, le TIC-TAC, nerveux
    la bouteille de brandy à moitié.


    La cloche de porte, belle au bois dormant dans le silence
    la fenêtre de la salle reste entrouverte.


    Le cendrier emballés, la cigarette entre ses doigts,
    souffle, le poème, le secret offusque.


    L'environnement dans la pénombre, le mois est septembre,
    Aube pluvieuse, du temps et n'oubliez pas,
    la dernière fois que j'ai entendu son nom.


    Le livre de poèmes, enfin finis,
    quelques-uns ont été vendus, plus j'ai gardé.


    Dans la bibliothèque virtuelle de la salle un mess endommagé,
    livres, les chouettes, les cristaux et les CD.


    Temps ne marcher dans les rues de la ville,
    Drive me, le bruit et la fumée des voitures.


    Sucre marche tall, le nom correct est le glucose,
    le téléphone joue parfois, est habituellement erreur.


    Dans le coin d'une table, inachevé
    effort monochrome, un tampon stérile.


    La plante en pot, quand je me souviens, je rego,
    fougère valente résiste à tout.


    La guitare silent, cordes, desafinadas
    composer pas plus de betteraves, je ne suis plus pro bolero,
    les touches du piano reflètent mieux les malentendus.


    Nouvelles récentes signalent que le rêve
    a la dérive sur un navire sans Pier.


    Garder aussi dans ma chambre, l'Alliance, parfum,
    ses lettres d'amour et de la photographie.


    La clé de la maison, cachée, vous savez...
    Quand vous voulez juste ouvrir la porte et entrez.


    Traduit de Français par Marlene Nass.

    ResponderExcluir
  3. Que lindo, Naldo, tão comovente, profundo, de quando a melancolia e a profunda tristeza nos levam a grandes inspirações, parabéns, amigo!

    ResponderExcluir
  4. Voltando A Ter Com Seus Escritos,
    Do Qual Não Creio Ser O Mais Bonito,
    Porque Já Fez Mais Feios,
    E Outros Deixou Pelo Meio,
    Mas Amei Ler Cada Linha,
    E Ater Nesses A Vista Minha,
    Agradeço O Por Em Meu Caminho O Deixar,
    E Minha Manhã Ainda Mais Iluminar!!!

    Aplausos Poéticos Calorosos A Seus Escritos Majestosos!!!

    Pequena Amiga e Fã: Vana Fraga

    ResponderExcluir
  5. Que belo passeio Naldo!
    Mesmo triste, o tom é leve!
    Poetas têm o dom de enfeitar a tristeza.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  6. inebriante comoção! de uma singeleza tocante, triste retrato!
    Parabéns..

    ResponderExcluir
  7. As dores de amor são desse jeito mesmo, deixam uma desordem danada no coração e na alma da gente. Mas pro poeta, vira o encanto de muita inspiração, de embelezar a dor e a melancolia, e nisso, meu amigo Naldo Velho, vc é mestre! Belíssimo poema...Parabéns!

    ResponderExcluir